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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

UM CONTO

O DIA EM QUE CARLITOS DESCOBRIU A ALEGRIA Para Ruani e Pietro Carlitos não tinha tempo nem para respirar. As engrenagens, o painel com botões, o consumiam, nem se lembrava de seu nome ou vida fora dali. A monotonia, a rotina, não o incomodava, porque não a percebia. Mas a cada parada, seus olhos se afundavam na tristeza. Se bem que, Carlitos e outras aventuras, mesmo engraçadas, guardava nos fundos das retinas, um triste olhar. Talvez indignado com a individualidade reinante entre as pessoas? Talvez porque pouco ele e os seus tinham para comer, vestir? Talvez amores perdidos, não correspondidos?. As respostas ficam para a eternidade, nunca são reveladas, nem tão pouco SMILE, é herança para dirimir estas dúvidas cruel. Nosso Carlitos, tinha segredos, os quais nunca aguçaram nossas curiosidades, pois não tínhamos tempo para isto, pois sua arte e graça nos completavam. Mas só para titulo de registro, alguns destes segredos: Porque usava fraque, terno, cartola e bengala? Ainda por cima da cor preta?. Carlitos não tinha sobrenome, porque? Nem mulher, nem filhos, apenas esporádicos. O olhar triste é então o maior destes segredos. Naquele dia, Carlitos conseguiu parar. Uma indisposição, o fez deixar o monstro de aço e ir até o repouso das tiriricas. Lá ajeitou-se e ficou a pensar, longe, perto, não importa, ficou a pensar. Vida, vida, chata e pesada que vivia, não era feliz. Nem chorar conseguia mais, nem se recorda quando foi a última vez, que lágrimas rolaram pela sua face. Nem quando um alemão adepto do Partido Nacional, o agrediu: Judeu de merda, morte a ti. Nem raiva sentiu, não tinha tempo para estas frivolidades, típicas dos fortes, dos poderosos. Pobres e ainda por cima operários, não tem este luxo. A sirene terrível, tocou, quase arrancando seus tímpanos. Não tinha forças para correr e se ver livre daquele ambiente hostil e carniceiro, pois a cada fim de dia sentia-se como que parte de suas carnes foram ali destroçadas. Mas com muito custo, chegou ao trocador e colocou sua roupa. O fraque, a cartola, o sapato brilhando e é claro a bengala. Apesar das tormentas e do caos, Carlitos nunca perdeu a pose, ou quem sabe a esperança. As roupas simbolizavam isto?. Foi um dos últimos a sair, até porque raça pura não se mistura com o povo de Israel. Não queria ir para casa. Decidiu andar pelas ruas, quase desertas. Andar, andar, andei, era a ordem da consciência Carlitista. È como se a senhora de nossos atos, estivesse querendo fazer previsões, de que algo inusitado poderia vir a acontecer. Carlitos caminhava, tentando esquecer os relinchos e gritos do monstro, ou os bla, bla blas, dos homens de capa. Não se atentou que se distanciava, em muito de seu caminho diário. Começava a não reconhecer onde estava. Casas simples, mas lindas. Ruas claras e limpas, onde circulavam, pretos, amarelos, vermelhos, brancos, Judeus, Cristãos, Budistas e outros. Reparou que não havia chaminés, muito menos carros rasgando avenidas e quase atropelando pessoas. Viu animais das mais variadas espécies. Ouviu música, de ritmos mil. Carlitos amava música, tanto que nunca dispensou de suas Histórias mesmo quando não sabia falar, um bom músico. Foi seguindo a trilha das canções: era Jazz, Blues, Gospel, Fox Trote, Tango, Valsa. As pessoas tinham rostos pintados e roupas coloridas e largas. E dançavam, exalando um perfume com gosto de alegria. Carlitos continuava a andar, e cada vez mais um som lhe chamava a atenção, vinha de uma pequena viela. O ritmo, moderno com um arranjo de grandes espetáculos da arte da lona. Nosso Judeu, estava embevecido com aquela música. Atentou-se para trechos da canção: Solta a prosa presa , a luz acesa, já se abre um sol em mim maior. Correu, como a muito não fazia,. Chegou na viela. Nao acreditou no que via. Era fascinante, uma surpresa, daquelas de cair o queixo, até de um palhaço, experimentado e não se deixar abater, apesar dos olhos tristes. Mas alí não era abatimento, nem sofrimento, era deslumbramento. Pura poesia. Ela era linda, jovem, com uma vestimenta toda colorida, com uma saia a rodar. Ele um molequinho, ao contrario de Carlitos, seus sons saiam e ele sorria, no colo de sua progenitora. Eles dançavam, ela cantava a canção do Poeta e Palhaço Pena, como se mostra-se a ele que o mundo é bom, é magia, é emoção. Ele agitava-se em seus braços, como que aceitando a apresentação ali feita. Eles não viam Carlitos. Nosso Palhaço Poeta, estava petrificado. Percebeu que amava aquela menina negra. Não um Amor carnal, mas afetuoso. O molequinho, ele nem sabia a dimensão que seu coração estava a sentir. O vazio, a rotina, a chatice, iam embora. Eram substituídos, pela força daqueles seres, felizes a dançar e cantar, como a descobrir o Nirvana. Atingir Deus, assim pensava Carlitos, ao ver aquela cena maravilhosa. Aos poucos juntavam-se a mãe e seu filho, malabaristas, mágicos, equilibristas, outros dançarinos, bonecas de pano e palhaços, tal qual Carlitos, que neste momento, sentava ao meio fio da calçada, e estava em prantos. Um choro de gozo e não de angustia. O Palhaço chorou e alegrou-se, como se a vida resumi-se aqueles momentos de extase, catarse. Mas se não se limita, uma coisa Carlitos teve a certeza, seus olhar não será mais triste. Pena O Teatro Mágico Composição: Fernando Anitelli e Maíra Viana O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é a cédula mãe solteira O poeta pena quando cai o pano
E o pano cai
Acordes em oferta, cordel em promoção
A Prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A Luz acesa
Lá se dorme um Sol em mim menor Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior (4x) O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
A porcentagem e o verso
rifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão O palhaço pena quando cai o pano
E o pano cai
Meu museu em obras, obras em leilão
Atalhos, retalhos, sobras
A matemática da arte em papel de pão E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A luz acesa
Já se abre um sol em mim maior [Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior] (4x

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