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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

GLOBO VERSUS RECORD

Embate Globo X Record é "disputa comercial"
Abertura dos telejornais nas duas maiores emissoras do país. Começa mais um capítulo da batalha televisiva iniciada um dia antes entre as redes Globo e Record. Para além da disputa pela audiência, o incidente desnuda o uso indevido de espaços públicos para disputas particulares. A avaliação é de Laurindo Leal Filho, doutor em ciências da comunicação pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade.
- São duas empresas comerciais que se utilizam do espaço público – que não é delas, é da sociedade – para resolver pendências comerciais e empresariais. Isso é absolutamente incompatível com o Estado democrático. Autor de diversos livros sobre o assunto ("A TV sob controle, a resposta da sociedade ao poder da televisão" e "A melhor TV do mundo, o modelo britânico de televisão", dentre outros), Laurindo avalia, nesta entrevista a Terra Magazine, que a disputa comercial entre os dois canais tem como ponto positivo a exposição da história de "relações promíscuas" da Rede Globo.
Além de evidenciar a defasagem e a falta de legislação para o setor de telecomunicações. O estopim da luta de foice entre os dois canais foi a publicação de reportagem com mais de 10 minutos de duração pelo Jornal Nacional na terça-feira, 11, repercutindo denúncia do Ministério Público de São Paulo que incriminou o bispo Edir Macedo e outros nove membros da Igreja Universal por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. No dia seguinte, o revide.
Em reportagem de cerca de 15 minutos veiculada pelo Jornal da Record, a emissora – controlada pela Universal – recorreu a imagens de arquivo para vincular a Globo à ditadura militar e aos escândalos Time-Life e Proconsult. E destacou que a emissora carioca ignorou o movimento Diretas-Já, em 1984. Nesta quinta-feira, novo round, com os mesmíssimos ingredientes.
Em nota enviada a Terra Magazine, a Central Globo de Comunicação afirma que está dando ao caso Universal "tratamento equivalente" ao que deu a outros fatos jornalísticos, como a deflagração da Operação Satiagraha, em julho de 2008. A central de comunicação da Rede Record afirmou, por sua vez, que a emissora "não está atacando ninguém, apenas respondendo às acusações feitas e aos ataques que partiram da Rede Globo".
"O que o cidadão em casa tem a ver com a briga entre a empresa Record e a empresa Globo? Ele não tem nada a ver com isso", critica Laurindo. " Ele tem que receber um serviço público correto de rádio e TV, que atenda aos seus interesses e as suas necessidades". Confira a entrevista:
TERRA: Terra Magazine – Como o senhor avalia o embate entre Globo e Record observado nos últimos dias?
Laurindo Leal Filho – Sem dúvida é uma luta pela audiência, o fato de a Record a cada momento subir mais aceleradamente no Ibope, com resultados que nunca foram obtidos desde o surgimento da Globo. Desde que ela assumiu a liderança, nunca sofreu um abalo de audiência tão grande. Essa, sem dúvida alguma, é a razão central da investida da Globo contra a Record, ampliando e amplificando a manifestação do Ministério Público contra os proprietários da Record. Essa é a realidade. Agora, o problema que me parece mais grave para o Brasil e para o setor de comunicações é o fato de que duas empresas se utilizam do espaço público, já que ambas são concessões públicas, para fazerem trocarem acusações e fazerem ataques em defesas de seus interesses empresariais.
TERRA: Sim… LEAL: Ou seja: são duas empresas comerciais que se utilizam do espaço público – que não é delas, é da sociedade – para resolver pendências comerciais e empresariais. Isso é absolutamente incompatível com o Estado democrático, onde o espaço público de rádio e televisão tem de ser organizado em função dos interesses da sociedade, e não dos interesses particulares e comerciais de Globo e Record. Esse é o grande problema que não está sendo discutido. O que o cidadão em casa tem a ver com a briga entre a empresa Record e a empresa Globo? Ele não tem nada a ver com isso. Ele tem que receber um serviço público correto de rádio e TV, que atenda aos seus interesses e as suas necessidades.
TERRA: A Record diz que, por conta do domínio da Globo, o Brasil hoje vive um "monopólio" na TV… Isso é real? Essa disputa não dá sinais de que estejamos caminhando para uma espécie de duopólio?
LEAL: É verdade. Se há algo positivo nessa crise, é o fato de o monopólio da Globo estar sendo arranhado. Isso acontece tanto do ponto de vista da audiência… O fato de o reality show A Fazenda estar derrotando a Globo no domingo mostra que o monopólio está abalado. Esse é um fato importante, embora eu acredite que poderia ter sido abalado com outras armas, não com instrumentos semelhantes aos da Globo. O outro aspecto positivo é o fato de que a Record esta colocando no ar, para milhões de brasileiros, informações sobre a história da Rede Globo que poucas pessoas conheciam. Todos nós na área de comunicação e na Universidade sabíamos desses fatos, mas a grande maioria da população com certeza não sabia quais eram as relações promíscuas que marcaram toda a história da Globo com todos os governos da República. Esse é um fato positivo: colocar para o grande público a história real da Globo.
Leia a matéria na integra aqui: http://zequinhabarreto.org.br/?p=2323 .

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