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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

NOTICIAS DO VELHO CONTINENTE

Um olhar nas ruas de Paris Aqui, no centro do “velho mundo”, é possível observar o que a imprensa omite 13 de julho. Eram passados pouco mais de 10 minutos da meia noite. Ao voltar para a casa de um amigo, economista e militante francês que reside no 18° distrito (arrondissement) de Paris, vejo as ruas ardendo em chamas. Em várias esquinas, carros são queimados. Perguntei a alguns jovens o que ocorria, ao que me responderam que era um protesto contra a violência policial e contra a política do governo. A juventude da periferia aproveitava a comemoração do dia 14, (Queda da Bastilha) para organizar um fortíssimo movimento que se estendeu até às 3h da madrugada e que era impossível não ser notado. No Brasil, pouco ou quase nada se falou na imprensa. Naquela noite, quase 500 carros foram incendiados.
Experiência a compartilhar Estar em uma cidade européia com a importância que tem Paris, no momento em que vivemos a maior crise do capitalismo desde 1929, além de ser marcante experiência política, é também um grande desafio. A França é parte do que acontece no resto da Europa. Mas, também é exceção. Andando pelas ruas dessa que é uma das mais belas cidades do mundo, conversando com as pessoas, visitando entidades e acompanhando a dinâmica política do país, tem-se a exata noção de que as coisas por aqui são resolvidas, para o bem e para o mal, nas ruas e no calor da luta de classes. A cidade do Iluminismo, da Revolução Francesa, da Comuna de Paris e do Maio de 68, mantém viva a tradição de grandes lutas sociais. Não pude ver, porque ainda não havia chegado, mas o Jornal do Unificados fez uma matéria que ilustrou bem como os franceses reagiram energicamente às primeiras medidas dos capitalistas, no inicio de 2009.
Quais os impactos da crise na Europa? Segundo importante entidade francesa, o L’INSEF – Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos, o desemprego real no primeiro semestre de 2009 atingiu a marca de 8,7%. De acordo com o mesmo estudo, nos primeiros meses de 2009, próximo de 3.000 franceses foram demitidos por dia. Qual o impacto de tantas demissões na vida dos europeus? Como isso influencia o Brasil? Pretendo, a partir do acompanhamento de fatos e da tomada de depoimentos, em Paris e em outras cidades européias, buscar informações que possam ajudar a responder essas questões. O drama dos imigrantes
A insistência dos governos europeus em fazer os trabalhadores pagarem pela crise tem gerado reações contraditórias na população. Se de um lado este conflito de classes gera lutas importantes em parte da Europa, ela também gera perigosas reações, mesmo entre os trabalhadores europeus. A xenofobia (ódio aos estrangeiros) e o racismo são fenômenos cada vez mais comuns. Observei isso nos aeroportos, nos serviços públicos, no tratamento dado no dia-a-dia àqueles que têm fisionomia latina, africana ou asiática. Esse sentimento é alimentado por forças políticas que se aproveitam da situação para propagar suas ideologias. Também se manifesta em políticas de estado. Um claro exemplo disso é a cada vez mais difícil concessão de vistos de permanência. O que é pior, muitos dos que são nascidos na Franca, ou que já possuem o tempo que permitiria sua legalização, têm esse direito negado. Essa política produz a organização de um movimento social muito interessante e bem organizado e que não temos no Brasil: o Movimento dos Sem-Papel (Les Sans-Papiers). Acompanhar os Sem-Papel é hoje tarefa essencial para entender para onde caminha a França e a Europa (foto) As próximas matérias Entre outras questões que nortearão as próximas matérias estão: Como se comportam os governos, bancos, empresas e suas forças políticas? E de outro lado, como atuam e respondem os trabalhadores e suas organizações? Como é a vida de brasileiros e de outros imigrantes que vivem por aqui? Como funcionam os jornais, os partidos, os movimentos sociais? O que pensam as direções sindicais? Como estão conduzindo as lutas de resistência? Que experiências podem ser aproveitadas?
Como se diz por aqui, voilà! Rodrigo Paixão, cientista político, vive atualmente em Paris

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