Os que matam e os que morrem
19/08/2009
Por Mauro Santayana
Os maiores heróis não são os ousados soldados que investem contra os inimigos; são os que morrem com as mãos nuas, como o brasileiro Sérgio Vieira de Mello morreu, há seis anos, em Bagdá. Os grandes guerreiros, como El Cid, o chefe militar espanhol do século 11 que, de acordo com a lenda, combateu depois de morto, com seu corpo atado a um cavalo, foram preparados para matar.
Os norte-americanos cultuam a memória do cabo Alvin Cullum York, que, sozinho, matou, em um só ataque, 24 soldados alemães na ofensiva do Meuse, em outubro de 1918, e fez 132 prisioneiros. York foi o mais condecorado dos militares ianques e ganhou do Estado uma fazenda como recompensa. Na resistência aos agressores, esses heróis são também necessários, como foram os pracinhas da FEB. Nas guerras de agressão não há heroísmo.
Não houve heroísmo americano no Vietnã, como não houve heroísmo israelita em Gaza, mas, sim, crimes de Estado. Há os que vão às guerras só com a eventualidade da morte. Entre esses, os que pensam encontrar no suicídio o retorno de sua memória à condição humana, como ocorre aos americanos no Iraque e no Afeganistão.
A ONU decidiu, por iniciativa da Suécia, que a data de 19 de agosto seja dedicada aos 700 trabalhadores da paz, entre eles o nosso compatriota Sérgio Vieira de Mello, que morreram nos últimos 10 anos, e aos milhares de outros que sucumbiram antes. Embora possa haver, entre eles, religiosos, em sua maioria são apenas humanistas. Não os move qualquer recompensa transcendental, mas, sim, o sentimento de que é necessária a busca da paz. A paz não é só o emudecer das armas, mas o pão, a saúde, o conhecimento, a liberdade – e a justiça.
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