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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A ENTREVISTA

A POESIA COMO PONTO DE EVOLUÇÂO HUMANA O tempo para o poeta, praticamente não existe. A poesia não é um produto que se faz em grandes quantidades, para alimentar um mercado ou parte de uma linha de montagem. O poeta é o Senhor de seu tempo e no espaço de sua criação de seu mundo muito particular. Ali ele passeia por pensamentos e fantasias, vividas e sonhadas. A Poeta não esta morto e nunca morrerá, afirma o Jornalista de formação, mas poeta de opção, Otacílio César Monteiro. Uma delicia de Entrevista. Muito lúcido, este Araraquarense, mas Limeirense por vocação, nos faz caminhar com ele sob opiniões e concepções acerca da Literatura e sua importância, para não só o conhecimento das Pessoas, mas para o próprio crescimento delas no caráter, para assim mudar o mundo. Conheci Otacílio, quando juntos fizemos o antigo Ginásio na Escola Trajano Camargo. Lá ele já desenvolvia seus dotes de escritor. Com uma analise fraterna, mas franca, Otacílio, discorre sobre a Academia Limeirense de Letras, e mesmo tendo restrições, deseja que a ALL, possa contribuir para o conhecimento intelectual de nosso povo. Por fim, com onze livros publicados e dezenas de atividades ligadas a arte de escrever, Otacílio, demonstra o quanto é um dos maiores artistas de nossa cidade. 1. O que você acha da máxima do Carlos Drummond: “10% de Inspiração e 90% de Transpiração?
Otacilío: A relação é mais ou menos essa. Escrever é um ato intelectual e não sentimental. É claro que se você está inspirado, isto é, realmente interessado num tema ou espiritualmente propenso a fazer algo de que gosta (e todo escritor gosta de escrever, assim como o futebolista gosta de jogar), a obra tende a ser mais bem elaborada. Mas escrever é muito mais trabalho que fruição, muito mais técnica que devaneio. 2. Como você se define no mundo da Poesia? Tem alguma corrente poética que te atrai?
Otacílio: Isso talvez choque as pessoas que confiam no meu trabalho, mas apesar de ter lido razoavelmente nunca me aprofundei no estudo das escolas literárias. A Poesia que me atrai é a contemporânea, mas não sou chegado a modismos. Gosto do verso livre e também aprecio construções mais elaboradas, como um bom soneto. Eu diria que sou um viúvo da Poesia de Quintana, Vinícius, Cecília. 3. Fale um pouco de sua obra. Quantos livros? Quais os Gêneros? Qual mais gosta?
Otacílio: São onze livros, sendo dez em Poesia e um em Prosa. Dos livros de Poesia, um é infantil. Chama-se Pau, Pau, Pedra, Pedra e conta a história de Paulo Pedro, um menino perfeccionista e turrão, que melhora a postura ao final do poema. Gosto de todos os meus livros, mas confesso que atualmente estou apaixonado por este infantil, que está na segunda edição e já vendeu 3.500 exemplares, quase todos entregues na mão do leitor com o meu autógrafo. Escritor independente não vende em livrarias, tem que dar a cara pra bater. E a surpresa boa: leitor não bate, dá carinho. Criança, então, nem se fale. 4. Outra frase, a qual gostaria de saber sua opinião. Em tempos de Globalização Econômica, “O Poeta está Morto”?
Otacílio: Não, o poeta não está morto e jamais vai morrer. O que está em constante mutação é o meio de exposição e venda, e não a atividade fim. A atividade fim do poeta é escrever poemas. Isso nunca morrerá. E, seja de forma independente ou através de editoras, o poeta mostrará sua obra, em livros impressos, Cd’s, dvd’s ou o raio que o parta 5- Limeira tem uma Academia de Letras. Você não é membro. O que acha desta instituição? Ser imortal traz que tipo de contribuição a sociedade? Não acha ser a Academia algo elitizante, e excludente?
Otacílio: Começando pelo fim da pergunta, o ser imortal em questão pode contribuir, sim, no sentido de enaltecer e registrar para sempre obras e indivíduos de incontestável contribuição cultural e artística. A Academia deveria mesmo ser elitizante, no sentido de reunir a nata da intelectualidade, gente com obras, publicadas ou não, de muito peso. Mas com todo respeito aos literatos vivos e falecidos de nossa cidade, é muito fácil de se notar que não temos 40 acadêmicos incontestáveis, nem quando juntamos vivos e mortos. Por isso fui contrário à fundação da academia, pois entendo que o rótulo é muito forte. Quero, entretanto, deixar claro que não me interesso em ficar criticando essa entidade e espero que ela traga a sua contribuição cultural. Evito me manifestar publicamente a respeito, pois tenho vários amigos lá e não quero perdê-los. Principalmente, agora, que são imortais. Seria um carma e tanto. 5. A SOLL não é uma Academia, certo. Mas quais são as finalidades desta entidade?
Otacílio: A SOLL _ Sociedade Literária Limeirense é uma associação que congrega escritores, poetas e amantes da Literatura. Nossa intenção é propiciar ao associado crescimento cultural e intelectual na área de Literatura. No momento, estamos empenhados em finalizar a Coleção Maria Paulina, que prevê o lançamento de 10 livros de bolso, dos quais quatro já foram lançados. O grande diferencial da coleção é lançar obrigatoriamente autores inéditos. Acreditamos que isso seja uma boa contribuição para a cidade, pois propicia a aparição de autores novos. 6. Até meados dos anos 60 do século XX, a literatura poética, tinha espaço no Jornalismo dito comercial. Vários veículos tinham páginas dedicadas a poemas, contos, crônicas e outros. Grandes mestres ocuparam grandes jornais, com seus escritos: Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, Nelson Rodrigues e tantos outros. Hoje para ser publicado uma vertente literária, só o acaso. Pergunto, a emoção da literatura foi substituída pela concepção de Jornalismo frio, seco e voltado para o lucro? Como define isto?.
Otacílio: A Imprensa sempre esteve voltada para o lucro e interessada na queda de braço do Poder, mesmo no tempo do jornalismo romântico. Talvez a diminuição da frequência dos grandes mestres nos jornais impressos também se deva ao surgimento de novas mídias, como a Internet, e ao crescimento da TV. Quero dizer que o mundo mudou e o Jornalismo também se embruteceu mais. Mas o jornalismo não é mesmo lugar de literatura. Exceto para alguns gênios que, talvez, estejam em falta. 7. O Argentino nosso ilustre vizinho lê em média, 10 livros por ano. O preço médio de uma obra lá gira em torno de quinze reais, mesmo em crises bravas. Aqui a média entre os que têm acesso a leitura é de três anualmente e o preço médio do livro é de 40 reais. Quais em sua opinião as razões para esta situação?
Otacílio: Um dos grandes problemas é que as pessoas não têm consciência do custo editorial, principalmente agora que o governo fornece muitos livros de graça, e nem sempre livros de qualidade. Tudo o que vem fácil demais não tem sabor. Por outro lado, se houvesse mais subsídios, talvez o preço de capa fosse mais baixo e isso incentivasse mais as vendas. Agora, o cerne da questão está na educação infantil, certamente. Ler por obrigação tem sido o grande problema. As crianças deveriam ler por prazer e aprender que por trás de um livro tem um trabalho de pesquisa, além do escritor, ilustrador, arte finalista, diagramador, gráfico, livreiro e uma série de outros profissionais, sem falar nas máquinas e na matéria-prima. Em suma, os livros não brotam na prateleira da biblioteca ou da livraria. Eu acho que los hermanos sabem disso. 8. Você desenvolve projetos voltados a literatura, com crianças, certo. Quais são e como as pessoas podem participar?
Otacílio: Atualmente, realizo a palestra “Palavra, ferramenta de trabalho, em que falo de meus 20 anos como escritor e da importância da palavra como uma ferramenta de trabalho na vida familiar, estudantil e profissional de qualquer pessoa. Ao final, falo do meu livro e o autografo para as crianças que adquirirem. Com o apoio de várias empresas, colocaremos em ação a campanha “Um presente para Paulo Pedro”. Crianças de 7 a 12 anos de qualquer escola poderão participar e concorrerão a muitos prêmios. Os detalhes estão no blog http://www.aventurasdepaulopedro.blogspot.com/.
9. Ziraldo disse certa vez que, para escrever é preciso ler. E quem lê pode fazer Revolução, certo?
Otacílio: Sim, para escrever é preciso ler. E isso já é uma grande revolução e uma grande evolução. Para mim, a grande revolução é a evolução individual de cada um. Não acredito mais em pessoas que desejam mudar o mundo e continuam a roer unhas. Se o cara não se transforma a si mesmo, não faz revolução. 10. Qual sua opinião da Política Cultural de nossa cidade?
Otacílio: Ela inexiste. Temos um excepcional agente cultural, o atual vereador Farid Zaine, que é meu amigo particular, grande artista e grande homem público. A cada vez que ele assume a Secretaria da Cultura, os projetos fluem. Quando sai, mínguam. Isso prova que não há uma política cultural de continuidade. Talvez a pressão dos artistas, que agora formaram uma associação, possa dar resultado. Pena que não chamaram representantes da área literária, sob alegação de já existirem a SOLL e a Academia. Mas tá valendo. O fato do nosso prefeito também ser um artista, com dois livros publicados, deve ajudar no diálogo. 11. Qual o novo projeto?
Otacílio: Meu novo projeto, que depende de São Patrocínio, protetor de todos os artistas, é fazer uma exposição sobre meus 20 anos de Literatura, durante a qual pretendo lançar meu novo livro, que está pronto, com cem poemas inéditos e o título “Contradança”. 12. Poderá nos brindar com um poema inédito? Otacílio: Com muito prazer, aí vai o mais recente: Felino
A outra face da foto-
o fotógrafo- fareja, fita e fixa
algum momento fugaz.
O fino flash, no ato,
captura a nova cena,
emoldura mais um fato.
De seu observatório, a um poema da presa, o criador se revela.
Otacílio Cesar Monteiro Obrigado pela oportunidade e muito sucesso ao blog. Abraços!

Um comentário:

  1. Agradeço aos comentários elogiosos do amigo Janjão. A entrevista saiu boa pq as perguntas foram inteligentes. E, quanto ao nosso tempo de Trajano Camargo, quando me lembro a Poesia bate forte na forma de saudade. Bons tempos que voltam, sim, senhor, na esteira das boas recordações.

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