A história do palacete "surrealista" que virou a casa de gente simples
Cerca de 250 pessoas fazem parte da história viva da vila urbana mais antiga de São Paulo e lutam para resistir à especulação imobiliária
24/09/2009
Patrícia Benvenuti,
Da Reportagem
No início eram bailes, orquestras e uma proposta arquitetônica inovadora. Oito décadas depois, degradação, incertezas e ações judiciais tomam o cenário da Vila Itororó, no bairro do Bixiga, região central de São Paulo. Mais antiga vila urbana da cidade, o espaço virou o foco de uma disputa entre o poder público, que diz ter planos para restaurar seu patrimônio histórico, e os moradores, que lutam para continuar vivendo no local e ter seus direitos reconhecidos.
Em agosto desse ano, a 1ª Vara da Fazenda Pública determinou a imissão provisória na posse para Secretaria de Estado da Cultura, após o depósito, em juízo, do valor de oito milhões de reais, correspondente à indenização devida à Fundação Leonor de Barros Carvalho, atual proprietária da vila, desapropriada em 2006.
Das mãos do governo do Estado o conjunto será repassado à Prefeitura de São Paulo, que pretende transformá-lo em um centro cultural por meio de um projeto elaborado pela Secretaria Municipal de Cultura. Como consequência, devem ser removidas da vila cerca de 250 pessoas, que não sabem qual será o seu destino.
“A vila era linda”
Foi aos 20 e poucos anos que Maria de Lourdes Di Donato se mudou para a Vila Itororó e, de lá, nunca saiu. Natural de Laranjal Paulista, interior de São Paulo, a aposentada de 79 anos tem mais de 60 de vila e é hoje a moradora mais antiga. Da cozinha de sua casa, com vista para o pátio coletivo, ela relembra os bons tempos do lugar.
"A vila foi maravilhosa. Muito bem organizada, nunca teve uma sujeira, tudo arrumadinho. Era um espetáculo, a vila era linda”, relata.
A vizinhança também era excelente, garante Lourdes, que se anima mais quando conta do clube que existia dentro da vila. Com festas, esgrima e outros esportes, o clube era o ponto de encontro entre os moradores.
"Cada baile que tinha, gente, com orquestra. Minha irmã foi diretora por muitos anos. Tinha muita festa ali, tinha festa de São João. A piscina era uma delícia, a gente fazia churrasco no sábado, passava os convites para os conhecidos. Era muito gostoso. Tudo acaba, né?", lamenta.
Idealizada pelo tecelão português Francisco de Castro durante os anos 20, a vila foi concluída em 1929, dando origem a um palacete cercado por 37 casas de aluguel. O terreno, de 4,5 mil metros quadrados, ocupa meia quadra entre as ruas Martiniano de Carvalho, Monsenhor Passalaqua, Maestro Cardim e Pedroso.
Em sua construção, foram utilizadas partes do antigo teatro São José, incendiado em 1917, como carrancas, brasões, vitrais circulares e dois grandes leões que guardam a entrada do palacete, que serviu de moradia para o tecelão português.
O palacete e algumas casas são as únicas edificações que podem ser vistas da rua Martiniano de Carvalho. Isso porque a vila foi construída em um desnível de dez metros – para acessar as outras casas, é preciso descer uma longa escadaria, que chega ao pátio central.
A vila também foi a primeira na cidade a ter uma piscina residencial, utilizando-se do riacho do Vale Itororó, que passava onde, atualmente, está a Avenida Vinte e Três de Maio. Toda a extravagância rendeu-lhe o apelido, na época, de “Casa Surrealista”.
Leia a matéria na Integra aqui: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/a-historia-do-palacete-surrealista-que-virou-a-casa-de-gente-simples .
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