FLORESTAN FERNANDES FAZ FALTA AO PT E AO BRASIL!
Florestan Fernandes
O HORROR DO POLITICISMO PARA SE CHEGAR AO PODER
Folha – O que falta para que o PT se torne um grande partido de Massas?
Florestan – Ele está se tornando. Mas é preciso distinguir os meios que são perseguidos para que um partido cresça. Eu pessoalmente não sou favorável à social-democratização que descaracteriza um partido de trabalhadores. A social-democratização do fim do século 19-início do século 20 constituiu um processo revolucionário indiscutível. Os socialistas estavam identificados com a revolução, ligando seus dois tempos – a revolução dentro da ordem e a revolução contra a ordem. Posteriormente, especialmente depois da Primeira Guerra Mundial, mas particularmente no contexto posterior à luta contra o nazismo, a social – democracia enrolou suas bandeiras revolucionárias e se tornou um partido reformista, que taticamente se reduz a defender a reforma capitalista do capitalismo.
Folha – O PT é um partido reformista?
Florestan - Na última campanha eleitoral a propaganda política do PT resvalou muito por ai. Eu, como marxista, tenho uma posição mais firme.
Folha – A que aspectos da campanha especificamente se dirige sua crítica?
Florestan – Ao tipo de propaganda que se fez pela televisão e à tentativa de dar um ar muito civilizado às pretenções das classes trabalhadoras, suavizar o impacto daquilo que é fundamental a elas. Eu tenho a impressão de que o partido de trabalhadores deve ser firmemente proletário no seu socialismo.
Folha - Não é o caso do PT...
Florestan – Dentro do PT há várias correntes, umas mais avançadas outras menos. Não quero travar polêmica com as correntes que existem dentro do partido ao qual me filiei.
(Entrevista exclusiva dada ao jornal a “Folha de São Paulo” em 22 de junho de 1986)
A situação de falência múltipla dos pressupostos básicos que sempre nortearam os princípios políticos do Partido dos Trabalhadores se deve a um determinado grupo de burocratas politicistas que tomaram de assalto a maquina partidária e dela fizeram sua morada pessoal. Entendiam que o partido para conquistar o Estado não deveria medir esforços, pois o que vale é alcançar os fins não importando os meios.
A trilha para se chegar a dominar a maquina do Estado já era conhecida por todos usa-se o caixa dois ou a “contribuição não declarada”, elege-se um marqueteiro sem princípios partidários, mas com habilidades plásticas e simbólicas para fabricar imagens, sentimentos e princípios. Este era o caminho das pedras que todos os partidos políticos de uma forma direta ou indireta utilizaram em suas campanhas eleitorais.
O Partido dos Trabalhadores só introduziu algumas inovações que já estavam sinalizadas em campanhas passadas de outras agremiações partidárias, ou seja, o favorecimento de empresas de propaganda e publicidades nas licitações públicas. Aceitando o superfaturamento das mesmas ou concedendo aditamentos financeiros aos contratos durante a prestação dos serviços de publicidade.
Esse processo de favorecimento no qual acompanha a lavagem de dinheiro e o recebimento de recursos do exterior, como amplamente divulgado pelas comissões de inquérito ( com provas documentais ), feriu os petistas como eu, nós e eles. Como baluarte da ética na política e acreditando na possibilidade de sermos felizes, muitos militantes hoje estão desanimados, atordoados e sem perspectiva.
A ala dominante partidária do PT deveria fazer uma autocrítica de sua atuação e relembrar as posições políticas do professor Florestan Fernandes que sempre foi respeitado e consultado pela totalidade das tendências do partido. Não esquecer que a atuação desse militante conseguia o consenso pela competência discutindo as questões sensíveis do partido, pois como acadêmico brilhante das ciências sociais no Brasil demonstrou durante sua existência firmeza de princípios no combate ao capitalismo.
O Partido dos Trabalhadores, assim alertava Florestan desde 1986 estava resvalando para um reformismo. No qual julgo que o mesmo complementaria afirmando que a referida agremiação mostrava sinais de conservadorismo, apostando em um caminho da revolução dentro da ordem. Inconformado com os fatos ele não mediria esforços para discutir com o partido há necessidade de mudanças radicais de encaminhamentos e novos princípios, principalmente no que se refere à política econômica.
Acreditamos que Florestan recorreria ao amigo José Chasin que possui uma brilhante análise sobre a realidade nacional com seu artigo sobre o politicismo que assim está expresso:O politicismo arma uma política avessa, ou incapaz de levar em consideração os imperativos sociais e as determinantes econômicas.
Expulsa a economia da política ou, no mínimo, torna o processo econômico meramente paralelo ou derivado do andamento político, sem nunca considerá-los em seus contínuos e indissolúveis entrelaçamentos reais... ( CHASIN, José. Hasta Cuando. Ensaio n. 10, 1982, p. 7 e 8 )
O que sustenta o governo Lula é a política econômica que atende aos interesses do grande Capital financeiro internacional, cultivando uma inflação controlada aos olhos da classe média e fazendo uma imensa política assistencialista capaz de abafar as graves contradições do sistema capitalista. Isto é evidente quando percebemos a lógica recessiva que comanda a economia e que esta cada vez mais longe do cenário político, desprezando por completo o estudo da economia política.A blindagem que a cúpula partidária fez para que as denúncias não atingissem a política econômica demonstra essa separação entre economia e política que tem por objetivo atender aos interesses do grande capital.
Entendo que essa falta de percepção histórica no entendimento da realidade faria Florestan Fernandes sair do PT ou tentar recuperar as premissas originais do partido. Estimado amigo e professor Florestan Fernandes que falta fazes no debate político do Brasil e para o Partido dos Trabalhadores, sua ausência na academia desfalca a intelectualidade brasileira, bem como sua não presença no partido fragilizou os preceitos revolucionários e a ética do mesmo.
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