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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

REFLEXÃO

ENTREVISTA - ISTVÁN MÉSZÁROS
Avanço da esquerda na AL pode barrar semicolonialismo dos EUA Criação de iniciativas de cooperação como a Alba serviria de exemplo para outras regiões do planeta, diz Mészáros, um dos maiores marxistas vivos, que vem ao país para o lançamento de "A teoria da alienação em Marx" e do 7º número da revista Margem Esquerda, na quarta (10), às 19 horas, na USP.
Na ocasião, ele proferirá uma conferência gratuita. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista, cuja íntegra será publicada na Margem Esquerda. Ivana Jinkings* - Especial para a Carta Maior
István Mészáros é um marxista obstinado. Para ele, passar da defensiva à ofensiva é uma exigência do tempo em que vivemos, pois a única alternativa à barbárie é o socialismo. Autor do clássico "Para além do capital", esse pensador criativo se impõe com uma obra que não faz concessões, não recusa a polêmica - como reza a boa tradição de sua estirpe. É respeitado mundo afora como exemplo de radicalidade - seus escritos ultrapassam, ano a ano, os muros da academia e dão mostras de espantosa vitalidade -, e sua história de vida fala por si.
Nascido em Budapeste no dia 19 de dezembro de 1930, estudou no Liceu Clássico e começou a trabalhar já aos doze anos, primeiro como operário numa fábrica de aviões de carga e depois em vários outros empregos, até terminar a escola. Em 1949, graças a uma bolsa e por ter se formado com notas máximas, entrou para a Universidade de Budapeste como membro do Eötvös Collégium, a Escola Normal Superior húngara, de onde quase é expulso seis meses depois por ter defendido publicamente Georg Lukács.
Foi salvo pela congregação da escola, que rejeitou a moção de expulsão proposta pelo diretor, e graduou-se em Filosofia, com honras. Em 1950, reagindo à censura da encenação, no Teatro Nacional, do clássico da literatura húngara "Csongor és Tünde" (1830), de Mihály Vörösmarty - condenado pela sua "aberração pessimista" -, escreveu um minucioso estudo em defesa da obra. Publicado no mesmo ano, em dois números consecutivos da revista literária "Csillag",o ensaio recebeu o prêmio Attila József em 1951, o que resultou na reincorporação da obra de Vörösmarty ao repertório do Teatro Nacional.
A leitura desse estudo fez ainda Lukács nomear Mészáros seu assistente no Instituto de Estética da Universidade de Budapeste. Entre 1950 e 1956, como membro da Associação de Escritores Húngaros, Mészáros participou ativamente dos debates culturais e literários da época. Sobre esse período escreveu o livro "A revolta dos intelectuais na Hungria", publicado pela Einaudi (1958) e, em 1956, seu ensaio "O caráter nacional da arte e da literatura" foi escolhido como tese central da reunião plenária do Círculo Pet?fi, a ser presidida pelo compositor húngaro Zoltán Kodály.
Nesse mesmo ano editou a revista semestral da Academia de Ciências, "Magyar Tudomány", e a revista mensal "Eszmélet", fundada por intelectuais como o pintor Aurél Bernáth, o novelista Tibor Déry, o poeta Gyula Illyés, Zoltán Kodály e Lukács. Lukács, desde 1951 amigo próximo de Mészáros - foi, inclusive, padrinho do seu casamento com Donatella -, designou o assistente como seu sucessor na universidade e lhe pediu que assumisse as aulas inaugurais sobre estética, o que Mészáros fez até abandonar o país (após o levante de outubro de 1956).
Apesar do afastamento físico, esses dois grandes nomes do marxismo dos séculos XX e XXI mantiveram contato estreito e uma extensa correspondência até a morte de Lukács, em 1971. Depois de deixar a Hungria, Mészáros trabalhou na Universidade de Turim, na Itália, e, a partir de 1959, na Grã-Bretanha, ministrando aulas inicialmente no Bedford College da Universidade de Londres (1959-1961), em seguida na Universidade de Saint Andrews, na Escócia (1961-1966), e mais tarde, na Universidade de Sussex, em Brighton, na Inglaterra (1966-1971). Em 1971, lecionou na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam) e, em 1972, foi nomeado professor de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade de York, em Toronto, no Canadá. Em janeiro de 1977 retornou à Universidade de Sussex, onde, em 1991, recebeu o título de Professor Emérito de Filosofia. Permaneceu nessa universidade até 1995, quando se afastou das atividades docentes, e atualmente vive em Rochester, a uma hora de Londres.
Além do prêmio "Attila József" por seu estudo sobre Vörösmarty, em 1970 Mészáros recebeu o prêmio Memorial Isaac Deutscher por "Marx: a teoria da alienação", e, em 1992 e 2005, o prêmio "Lukács", na Hungria. Em 1995, Mészáros foi eleito membro da Academia Húngara de Ciências, e em fevereiro 2006 recebeu o título de Pesquisador Emérito da Academia de Ciências Cubana. É autor de extensa obra: "Satire and reality" (1955); "La rivolta degli intelletuali in Ungheria" (1958); "Attila József e l'arte moderna" (1964); "Marx's theory of alienation" (1970) [ed. bras.: "A teoria da alienação em Marx", 2006 (1)]; "Aspects of history and class consciousness" (1971); "The necessity of social control" (1971); "Lukács' concept of dialectic" (1972); "Neocolonial identity and counter-consciousness: essays in cultural decolonization" (1978); "The work of Sartre: search for freedom" (1979); "Philosophy, ideology and social science" (1986); "The power of ideology" (1989) [ed. bras.: "O poder da ideologia", 2004]; "Beyond capital" (1995) [ed. bras.: "Para além do capital", 2002]; "Socialism or barbarism: from the "American century" to the crossroads" (2001) [ed. bras.: "O século XXI: socialismo ou barbárie?", 2003]; e "A educação para além do capital" (2) (2005).
Na entrevista que concedeu à "Margem Esquerda" (3), às vésperas de vir ao Brasil para o lançamento de "A teoria da alienação em Marx", esse filósofo generoso, de voz mansa - porém radical e firme em suas posições -, fala sobre sua trajetória, sobre o papel dos intelectuais, sobre o poder transformador da educação, sobre o avanço da esquerda na América Latina e, principalmente, sobre como seguir lutando para romper a camisa-de-força da lógica do capital (e a enfrentar os desafios da transição), rumo à emancipação humana.
PS: Sugestão do companheiro Jornalista Carlos Gilberto Roldão.

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