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sábado, 15 de agosto de 2009

COTIDIANO

“Eu sonho, porque enquanto agente sonha, vai atrás do que quer”.
Maria Nelma – microempresária.
(Fonte:Jornal O Mossoroense - Caderno Cotidiano, em 1º/08/09 http://www.jornalomossoroense.com.br/).
Catar lixo, depois vendê-lo, cuidar da casa e educar (sozinha) os seus três filhos - esta sempre foi a rotina da senhora Maria Nelma Fernandes, 48 anos. Até que um dia, enquanto se tratava de um câncer no útero, ela decidiu transformar sua vida e agarrou a primeira oportunidade que lhe foi oferecida.
Hoje, ela é cabeleireira, com diversos cursos no currículo, e ganha a vida com o salão montado na entrada de sua casa e serve de exemplo para diversas mulheres do conjunto Santa Helena, que, ao contrário dela, não aproveitaram a chance de evoluir profissionalmente.
"Eu estava fazendo radioterapia, fraca, sem vontade de fazer as coisas, até que eu comecei a fazer esses cursos e hoje estou recuperada e realizada. As outras mulheres não queriam, e, quando eu chamava, elas diziam que eu não ia para lugar nenhum,", disse dona Nelma.
A chegada ao lixão, ela prefere não comentar. Diz apenas que foi motivada pelas dificuldades que ela era obrigada a enfrentar para sobreviver com sua família, e que ele, na época, foi sua salvação, já que lhe proporcionava dinheiro diariamente.
Enquanto se tratava do câncer, ela recebeu a notícia de que o lixão (onde ela e os três filhos trabalhavam) iria ser fechado. A partir de então, o desespero começou a tomar conta de todos aqueles que lá trabalhavam, pois não sabiam como iriam sobreviver, que Nelma começou a perceber as chances que lhes eram oferecidas e poderiam ajudá-la a sair do lixão para algo melhor.
Com os plásticos, alumínio e cobre que catava, ela conseguia juntar uma média de R$ 25 por dia, muito mais do que ganha atualmente com o salão. Mas, segundo ela própria, aqueles não eram o local, nem a condição de trabalho que sonhou para sua vida.
"O lixão foi uma riqueza, eu tinha dinheiro todos os dias, tirava o sustento da minha família de lá, só que todas às vezes que podia eu sonhava em ter uma condição de vida melhor, sem ter que trabalhar a noite toda", contou.
Aproveitando um projeto que oferecia aulas de alfabetização aos catadores de lixo, ela tomou gosto pelos estudos, recebeu informações de cursos profissionalizantes que eram oferecidos gratuitamente e, há cerca de cinco anos, iniciou a sua busca pela profissão desejada.
Rindo, ela lembrou dos momentos em que sua irmã lhe dizia: "Não voe muito alto, para a queda não ser muito grande, viu?", e a resposta já estava na ponta da língua: "Eu sonho, porque enquanto a gente sonha, vai atrás do que quer!".
Seu primeiro curso foi de artesanato com papel reciclado, quando começou a fazer arte com papéis que ela própria recolhia, mas não se sentiu muito atraída pela profissão e foi à procura de outra área para se especializar.
Como já fazia unhas durante os finais de semana, sabia que se identificava com a profissão de cabeleireiro, resolveu iniciar um curso de corte de cabelos, e, desde então, não parou mais. Dormindo apenas duas horas por dia, para conseguir frequentar as aulas que eram no período da tarde, ela fez outros dois de corte - um de escova e outro de química.
E foi então que resolveu abandonar de uma vez por todas o lixão e se dedicar a sua profissão de cabeleireira, montando um salão na entrada de sua casa, organizando-o à medida que podia, mesmo que devagar e "sem nunca perder a paciência".
Seus sonhos, porém, ainda não acabaram. "Meu salão ainda não está como eu desejo, mas estou conseguindo melhorar aos poucos. E, se Deus quiser, vou poder ver tanto eu, quanto a minha comunidade, melhor", falou relacionando-se às outras mulheres que trabalhavam no lixão e estão desempregadas por não terem qualificação profissional.

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