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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

CRÔNISTAS

Opinião Um polígrafo 09/10/2009
Autor: Cristiano Kock Vitta
Não é qualquer jornalista que aprecia uma crônica, embora este gênero de narrativa tenha nascido nas redações. Descobri isso quando ainda era foca. Um colega me "orientou" a usar o espaço que tinha no caderno "Proibido Para Maiores" para fazer reportagens, em vez de perder tempo com crônicas ou contos. Fiquei perplexo.
Nunca imaginei que a escrita fora dos padrões jornalísticos tivesse tão pouco valor para este profissional que, à época, parecia ter um bom nível de conhecimento.Desde pequeno gosto de Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Carlinhos Oliveira, Stanislaw Ponte Preta, Lourenço Diaféria entre tantos outros. Foi devorando as coletâneas "Para Gostar de Ler" que passei a conhecê-los. Eram autores que usavam humanizavam fatos do cotidiano com impressionante destreza. Nunca eram piegas. Pelo contrário. Em cada um deles, havia uma dose muito particular de pessimismo. Hoje, compreendo perfeitamente o motivo da amargura implícita na maioria das histórias.
Assim como ler, escrever também é um exercício de convivência com nossas idiossincrasias. À esta prática, que nada tem de pragmática, juntam-se elementos que moldam a subjetividade: a solidão e a observação. Quando se trata de crônica, tornam-se importantes as pitadas de ironia e de perspicácia frequentes nas redações de jornais diários. A crônica é um invento genuinamente brasileiro e traz em seu bojo a síntese do temperamento nacional.
O ambiente da redação permite que o cronista amplie seu raio de observação ao topar com situações aparentemente banais e até vulgares. Um verdadeiro paradoxo, já que situações comezinhas teoricamente não contribuem para nenhum enriquecimento moral.O cronista, porém, não está interessado em juízo de valor ou no moralismo burguês que normalmente dá tom do noticiário.
Um cronista como Sérgio Porto - que usava o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta - revelava mais contradições do regime militar do que os jornais da época. Ambos eram vigiados pela censura, mas Porto escancarava as situações ridículas da ditadura com tanta criatividade que era difícil pegá-lo. Mas pegavam. E quando isso acontecia, novas crônicas passavam a fazer parte do Febeapá (Festival de Besteiras Assola o País).
Por causa de um jornalista que gosta de usar o bordão "é uma vergonha", um excelente cronista foi demitido da Folha de S. Paulo na década de 70. Lourenço Diaféria, que escreveu "Um gato na terra do tamborim", perdeu seu emprego por culpa de uma visão obtusa da crônica. E seu algoz não era um jornalista iniciante, mas de um destes caciques que gostam de agradar quem está no poder. Sintomático. Diaféria caiu no esquecimento e Bóris segue declamando seu jargão.
Cristiano Kock Vitta
Repórter do Jornal de Limeira

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