RELATO DE UMA REPÓRTER IMPOTENTE
Hoje tive a comprovação de que não é possível ser imparcial todas as vezes que um repórter sai às ruas. Dia 21 de outubro de 2009. Essa data vai ficar pra sempre em minha memória. Foi hoje que conheci a história de um aposentado, de 87 anos, chamado Patrocínio, mais conhecido como Sr. Caquinho. O senhorzinho é o responsávavel por cuidar de uma horta que existe há 20 anos no Parque Nossa Senhora das Dores. Em 1989, depois de ficar desempregado, Sr. Caquinho decidiu plantar frutas e verduras em uma área abandonada que fica próxima a sua residência. Trabalhar na horta era sua verdadeira paixão, afinal, era dali que ele tirava uma renda extra para ajudar no orçamento.
No ano passado Sr. Caquinho sofreu um derrame que foi responsável por paralisar suas pernas e hoje, além de se locomover em cadeira de rodas ele também precisa usar sonda o tempo todo.
Mesmo debilitado, o aposentado fazia questão de comparecer à horta todos os dias por pelo menos algumas horas. Ele precisa do dinheiro da plantação para comprar os remédios já que o salário mínimo que recebe de sua aposentadoria é insuficiente. O grande problema é que ontem fiscais da prefeitura estiveram na horta para pedir a desocupação do local. Segundo eles, naquele espaço será construído o parque tecnológico da Unicamp.
A notícia pegou Sr. Caquinho de surpresa e, desesperado, ele pediu que um amigo entrasse em contato com a imprensa para pedir auxílio. Mas, infelizmente, a imprensa nada pode fazer. Fui fazer a matéria e quando estava saindo da horta um funcionário da Secretaria do Meio Ambiente - muito mal educado por sinal - foi pessoalmente notificar Sr. Caquinho, já que a notificação de ontem foi entregue a uma vizinha dele. Eu sou leiga em assuntos jurídicos, mas tentei de alguma maneira apelar pelo lado sentimental do fiscal.
Mas, não adianta querer apelar emocionalmente para pessoas que não tem coração. Enquanto eu tentava falar com o funcionário da prefeitura, Sr. Caquinho chorava em sua cadeira de rodas e pedia para não tirarem a horta dele. O fiscal nem se tocou e foi enfático ao afirmar que ele tem o prazo de 30 dias para tirar toda a plantação dali, caso contrário, a horta seria arrancada a força. Sr. Caquinho, chorando, segurou na minha mão e disse: “Minha filha, não deixe que eles tirem minha terrinha. É meu último pedido. Quando eu morrer quero ser enterrado aqui”.
Quem consegue se manter firme diante de uma declaração dessas? Talvez o fiscal da prefeitura que não tem coração, mas eu, não consegui. Saí do local aos prantos, me sentindo impotente por não conseguir colaborar com aquele senhorzinho tão querido, que com lágrimas nos olhos, me pedia socorro.
Graziela Félix- Jornalista
PS: Graziela sua atitude não foi nem um pouco impotente. Pelo contrario. Primeiro você tentou convencer o fiscal da Prefeitura de que o ato era no minimo desumano e injusto, já que á 20 anos, era o Seu Caquinho e não a administração pública que cuidou da aréa. Segundo escrevendo o texto e levando a público uma situação que vem sendo comum na cidade, já á alguns anos. Terceiro você se indignou com a injustiça cometida contra o Seu Caco, não porque ele é pobre ou doente, mas porque ele é quem realmente se preocupa com os outros e não os defensores da tal modernidade. Não fique triste consigo, você foi muito solidária e é de pessoas assim que o mundo precisa. A partir de segunda feira, estaremos cuidando do caso.
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