Horta cultivada há 17 anos dará lugar a Parque Tecnológico
“Nada está bem”, recepciona o senhor franzino, que anda com ajuda e uma sonda. Morador do Parque Nossa Senhora das Dores, o aposentado Patrocínio Gonçalves Brandão, 87 anos, e só tristeza. A horta que serviu de ganha-pão em sua vida por 17 anos dará lugar ao Parque Tecnológico, que busca desenvolvimento ao município.Conhecido como “Seu Caquinho”, ele conta que trabalhava em usina até ficar desempregado.
Na “terra parada, que era só mato”, plantou laranja, limão, café, abacate e mandioca, entre muitos outros alimentos. Cuidou e ampliou a horta, que impressiona pela extensão, até sofrer um derrame, há um ano e oito meses. “Agora cuido como posso, mas tem outra pessoa que faz o serviço para mim.
Fico nos cantos sentado, não aguento levantar”, disse.O aposentado afirmou vender tudo o que planta, o que passou a ser complemento de sua aposentadoria. “Ele ganha muito pouco, e minha mãe também. Temos que comprar leite especial e fralda para ele, que são caros”, disse a filha.De acordo com ele, nunca havia sido notificado pela posse irregular do terreno até esta semana, quando a Prefeitura deu prazo de 30 dias para que as plantações sejam desfeitas. “Não é invasão.
Não há um monte de gente aqui, sou eu sozinho”, tenta se defender. Sem documento algum, apenas com a dependência e afeto ao local como comprovante de ‘posse’, a estimativa é de que as plantações de seu Caquinho ocupem pelo menos 3 mil metros quadrados. “Quando tinha saúde, começava às 5h da manhã e ficava até a noite”.
A Prefeitura alegou que outras notificações já foram feitas e que é desconhecida a existência de outras pessoas na mesma situação. A assessoria afirmou que o aposentado recebe assistência do Centro Municipal de Promoção Social (Ceprosom), o que foi negado pela família.
Além da horta cuidada pelo aposentado, o Parque Tecnológico englobará as imediações, incluindo a Incubadora de Empresas, existente no local. Em vista à insolúvel perda da terra que cuidou, o aposentado segue aos prantos. “Coloco nas mãos de Deus, nas mãos de quem pode”, lamenta seu Caquinho.
PS: Lí á alguns anos o livro "A Caverna" de José Saramago. È uma fabula moderna da teoria de Platão, onde um pequeno proprietário de uma Cêramica, movida a instrumentos de produção tradicionais e ultrapassados, se vê engolido por uma super poderosa empresa, que produz muito mais e vende mais barato, porém não é sinonimo de qualidade. A História do Seu Caquinho, já tinha lido no www.jornalistas.blog.br , artigo da Jornalista Graziela Félix, me emocionei com o relato dela. O que fica para nós deste fato, são duas questões: Até que ponto a modernidade realmente traz a paz? As novas tecnologias ao invés de substituir o homem, não deveriam facilitar a vida do ser humano, para que o mesmo tenha alem do emprego, mais tempo para sua familia e o lazer?. O Sr. Caquinho tinha na horta seu pão de cada dia. Agora tal qual o personagem de Saramago, perdeu o chão, literalmente.
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