"Esta secção, tem como objetivo socializar através da leitura dos posts uma obra literária de vulto. Todo dia será postado um texto do livro a ser abordado. Quem tiver sugestões e queira colaborar, envie nome das obras ou as mesmas para este exercício de compartilhar arquivos e conhecidos. Endereço Eletrônico: revupoeta@yahoo.com.br ou revupoeta@gmail.com “.
A OBRA
Vamos iniciar com a coletânea Mulheres, que reuni textos do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. A obra compõe escritos de vários livros do autor, como a trilogia Memória do Fogo, O livro dos Abraços, Vagamundo, Palavras Andantes, Dias e Noites de Amor e Guerra, entre outros. Galeano autor do best seller As veias abertas da América Latina, faz uma homenagem carinhosa a mulheres ilustres e anônimas que ajudaram a construir a História das Américas.
O TEXTO
A MOÇA DA CICATRIZ NO QUEIXO
5
- Aqui ninguém encontrará você. Fica, até que as coisas mudem.
- As coisas mudam sozinhas?
- O que você vai fazer? A revolução?
- Eu sou uma formiguinha. As formiguinhas não fazem as coisas tão grandes como a revolução ou a guerra. Levamos pedacinhos de folhas ou mensagens. Ajudamos um pouco.
- Folhinhas, pode ser. Ficaram algumas plantas.
- E algumas pessoas.
- Sim: os velhos, os milicos, os presos e os loucos.
- Não é bem assim.
- Você não quer que seja bem assim.
- Estive muito tempo fora. Longe. E agora...agora estou quase de volta. Pertinho, em frente. Sabe o que sinto? O que os bebezinhos sentem quando observam o dedão do pé e descobrem o mundo.
- A realidade não se importa nem um pouco com o que você sente.
- E vamos ficar chorando pelos cantos?
- Seis vezes sete é quarenta e dois e não noventa e quatro, e você, furiosa grita: Quem é o filho da puta que anda mudando os numeros?
- Mas...você pode me dizer como é que se acaba com uma ditadura? Com flechinhas de papel?
- Com o que, eu não sei.
- Daqui, se acaba uma ditadura? Por controle remoto?
- Ah, sim. A heroína solitária busca a morte. Não, não é machismo pequeno Burguês. È feminismo.
- E você? Pior. È egoísmo.
- Ou covardia. Diga.
- Não, não.
- Diga, que sou enganador, desertor.
- Você não entendeu.
- È você que não entende.
- Porque reage assim?
- E você?
- Eu já sei que você não precisa provar nada a você mesmo. Não seja bobo.
- No entanto, você me disse que...
- E você também me disse. Vamos começar outra vez?
- Esta bem. Eu me expressei mal.
- Desculpe-me.
- Seria uma estupidez discutirmos nestes poucos dias que...
- Sim. Nestes poucos dias.
- Escuta.
- O que?
- Sabe de uma coisa? Estamos todos desamparados.
- Sim.
- Todos. Desamparados.
- Sim. Mas eu te amo.
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