Ele amava a música, mas sua vida daria um filme
Confesso que esperava ver homenagens naquela fria tarde de domingo, 9 de maio. Porém, não posso esconder minha emoção ao escrever sobre aquilo que vi, ouvi e senti quando da despedida ao maestro Mauro Cerdeira. Sua morte, aos 76 anos, poderia significar o final de um ciclo, mas me parece ser o início de uma nova etapa na cultura musical da cidade.
Isso só seria possível em razão do legado deixado por Mauro Cerdeira. Afinal de contas, bastariam poucos minutos de conversa com os amigos para perceber que estávamos diante de uma figura incomum.
A paixão pela música o levou à Rádio Tupi. Estamos falando da época de ouro do rádio, em que as emissoras tinham seu casting. Na Tupi, era responsável pela cópia das partituras. Algo inimaginável nos dias atuais, de massificação da produção cultural.
Porém, seria em Limeira que sua trajetória ganharia contornos de um daqueles personagens marcantes de filmes. Durante 50 anos, foi maestro da Corporação Musical Henrique Marques, fundada em 1860 e a quarta banda marcial mais antiga do Brasil.
Histórica banda, histórico regente. Mauro Cerdeira foi o quarto maestro da Henrique Marques em quase 150 anos de vida. Recentemente, por conta de uma doença, passou a batuta para Fernando Barreto. Não sem antes contar ao jornalista (e músico) Felipe Furlanetti que, “se um dia Deus me perguntar o que eu fiz com o dom que Ele me deu, vou dizer que aproveitei nota por nota".
A música estava em sua vida particular. Casou-se com dona Aparecida, ela que também nutria uma paixão pela música – atuou como cantora de rádio. Os quatro filhos são músicos. Um deles, Jorge, regeu a banda na Academia da Força Aérea, em Pirassununga. Maurinho , por sua vez, segue os passos do pai nas retretas da “Henrique Marques”.
Há ainda uma lista infindável de músicos que passaram pela formação rígida de “seo” Mauro. Eles sabiam que, em cada aula, diante deles, estava uma pessoa diferenciada, que precisou reservar um cômodo de sua residência para guardar os prêmios conquistados durante a carreira. Sabiam também que Mauro era um exemplo de que apenas o dom não é garantia de um músico de qualidade, mas que a persistência é tão importante quanto a teoria.
Lá estavam eles, naquela fria tarde de domingo, para homenagear Mauro Cerdeira. “Hoje não vou conseguir tocar”, lamenta-se Maurinho, diante dos colegas de banda. Jorge não resiste à lembrança presente. Após a execução de “My way”, eternizada por Frank Sinatra, Jorge vai a Fernando Barreto e aos músicos para agradecer pela homenagem.
Pouco antes do último adeus, o prefeito Silvio Félix diz que homenagens oficiais representam o mínimo que a cidade pode fazer pelo maestro. “A preservação da cultura é o compromisso que assumimos diante dele”, completa o prefeito.
Sinal de que a retreta dominical em Limeira tem que continuar.
Adalberto Mansur
Jornalista e Secretário da Cultura
Limeira
Eu li!
Há uma semana
ola...meu nome é Maria Eugenia, sou filha do maestro Mauro Cerdeira..quero agradecer de todo o coração pelas lindas palavras sobre meu pai...ele era exatamente como vc escreveu...obrigada mesmo
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