Seguidores

Arquivo do blog

sábado, 8 de maio de 2010

A DEUSA DO JAZZ E DO BLUES

Billie Holiday: no fio da navalha, a essência visceral do jazz Por Jorge Sanglard Ilustração de Eliardo França Billie Holiday (7/4/1915 - 17/7/1959) foi a maior cantora de jazz de todos os tempos. Lady Day chegou a ser chamada de ‘Lester Young do jazz vocal’, numa referência ao grande expoente do sax tenor. E não é para menos, pois ninguém no canto jazzístico foi mais influente e deixou uma contribuição tão significativa quanto Billie. Os 95 anos de seu nascimento, em abril, e os 51 anos de sua morte, em julho, são momentos de reflexão sobre seu papel no universo do jazz moderno. Sua voz, carregada de emoção, marcou uma inovação determinante no universo do jazz ao insinuar uma interpretação impregnada de lirismo e de sensualidade. A concepção do fraseado de Billie foi única e insuperável. E seu domínio sobre o que cantava foi completo. Nenhuma cantora, até hoje, conseguiu viver a música com a intensidade de Billie. O prazer e a dor, a sofisticação e a marginalização, os grandes clubes e a prisão, a sedução e a melancolia, a suavidade e a exasperação, o sucesso e a discriminação acentuaram os contornos que tornaram o mito Billie Holiday indestrutível. A droga, a bebida, a prostituição, o racismo e a violência do cotidiano forjaram cicatrizes vivas em Billie e se tornaram determinantes no mosaico que compôs sua trajetória ao longo de 44 anos de vida. Uma vida pessoal sombria e uma performance cultuada como cantora maior do jazz marcaram a ascensão e a queda de Billie Holiday de forma dramática. À medida em que conquistava projeção como artista completa, Billie mergulhava fundo na autodestruição via álcool e droga. Billie lutou contra tudo e contra (quase) todos. Mas não resistiu à pressão que a cercou durante sua meteórica passagem pela vida norte-americana por quase quatro décadas e meia. O jazz teve em Billie Holiday uma matriz inspiradora inigualável e uma permanente fonte de influências, além de uma cantora que provocou inovações e deixou um rastro invejável. Qualquer referência sobre Billie Holiday é um convite para ouvir seu canto único. Mesmo o mais desavisado, certamente, será seduzido por sua voz docemente amarga e por sua capacidade de viver a música com uma intensidade apaixonante e apaixonada. Seu canto continua mais vivo que nunca e, graças às amplas possibilidades tecnológicas oferecidas pela remasterização digital, Billie Holiday vem tendo grande parte de suas interpretrações essenciais resgatadas. Assim, preciosidades gravadas a partir de meados da década 1930 até fins dos anos 50 estão em catálogo e vêm sendo relançadas. Hoje, já se encontra uma grande quantidade de CDs e de LPs traçando um amplo painel da trajetória da cantora mais visceral dos Estados Unidos. Nascida Eleanor Fagan Gough, teve o nome Billie escolhido pela mãe, Sadie, numa homenagem à atriz Billie Dove, e o sobrenome Holiday veio do pai, Clarence Holiday, músico que tocava com Fletcher Henderson. Billie teve uma adolescência em meio à barra pesada e chegou a ganhar uns trocados fazendo serviços domésticos num bordel até fins dos anos 20, quando sua mãe levou-a para Nova York. Aí se envolveu novamente em um bordel e após algumas complicações passou a cantar no Harlem, até que em 1933 impressionou John Hammond e este conseguiu que Benny Goodman a ouvisse. Daí para a primeira gravação, foi um passo. E um passo decisivo para a carreira meteórica de Billie Holiday. Hammond ouviu Billie cantando no Nonette Moore, um bar clandestino que existia na West 133rd Street. Aos 17 anos, ela era uma desconhecida e, segundo o próprio Hammond, “cantava como se tivesse conhecimento da vida”. A Sony (Columbia) é a detentora de jóias como a primeira gravação da cantora, em 27 de novembro de 1933, em Nova York, a canção “Your mother’s son-in-law”, com Benny Goodman e sua orquestra trazendo nada mais nada menos que Goodman (clarineta), Charlie Teagarden e Shirley Clay (trompetes), Jack Teagarden (trombone), Art Karle (sax tenor), Buck Washington (piano), Dick McDonogan (guitarra), Artie Bernstein )baixo) e Gene Krupa (bateria). Esta e outras 152 canções com Billie Holiday, gravadas de 1933 a 1942, integram a coleção “The Quintessential Billie Holiday”, composta de nove volumes e que, no Brasil, foi lançada a partir de 1987. Todas as faixas foram remasterizadas digitalmente dos tapes analógicos originais. As gravações desta fase trazem Lady Day acompanhada por pequenas formações, muitas delas lideradas pelo pianista Teddy Wilson. Cobras do primeiro time do jazz participam destas primorosas seções: Ben Webster (sax tenor), Roy Eldridge (trompete), Johnny Hodges (sax alto), Harry Carney (clarineta), Lester Young (sax tenor), Freddie Green (guitarra), Jo Jones (bateria), Benny Carter (sax alto), Harry Edson (trompete), Don Byas (sax tenor), Kenny Clarke (bateria), entre outros. Billie também cantou com Fletcher Henderson, com Jimmie Lunceford, com o grande Count Basie e até com os ‘brancos’ de Artie Shaw. Mas, em 1939, optou por cantar no Greewich Village, no sofisticado Café Society, e na década de 40 consolidou sua reputação como maior cantora de jazz de seu tempo. O fundamental era como Billie Holiday cantava e não o que cantava. Ao aliar técnica, flexibilidade e impacto vocal, Billie se credenciou a ser um divisor de águas no canto jazzístico e a influenciar uma legião de cantoras, permanecendo insuperável, principalmente, por sua extraordinária capacidade de transformar tudo o que cantava em música visceral e da melhor qualidade. Poucas cantoras conseguiram, depois de Billie, articular o fraseado jazzístico com o sentido e a precisão de um instrumento como ela. Este aprimoramento de estilo foi conquistado não sem muita dor. Afinal, Billie Holiday sempre cantou o que vivenciou. E toda sua exploração de nuances e sua sutileza interpretativa conviveram no fio da navalha com a turbulência que marcou sua vida e com a rejeição explícita ao racismo. Leia a matéria na Integra aqui: http://ow.ly/1IDEr .

Nenhum comentário:

Postar um comentário