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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A DIVERGÊNCIA SAÚDAVEL: SARAMAGO VERSUS GALEANO

Saramago defende não-utopia e Galeano polemiza Escritor português monopoliza atenções ao atacar utopias e pregar necessidade de ações concretas.
CRIS GUTKOSKI – da Agência Carta Maior
Eles escrevem crônica, ficção, romance e contos, com a densidade de ensaios de política e filosofia. E, por isso mesmo, foram recebidos no Fórum Social Mundial com a ovação tradicionalmente destinada a ídolos da música ou do cinema, com direito a fila de centenas de metros, gritos e urros diante da lotação além da conta do Auditório Araújo Vianna, na manhã de sábado (29). A palavra ao vivo de José Saramago e Eduardo Galeano foi consumida com fervor na mesa-redonda Quixote Hoje: Utopia e Política, da qual participaram também Ignacio Ramonet, Frederico Zaragoza, Luiz Dulci e Roberto Savio.
Galeano, autor de As veias abertas da América Latina, esteve em edições anteriores do FSM e sempre provocou rebuliço. Da primeira vez, em 2001, o direito de entrar no teatro do prédio 40 da PUCRS para assisti-lo foi disputado a tapa, uma curiosa contradição ao espírito da não- violência. O público extra se acomodou no palco. O espaço era pequeno demais diante da necessidade tão grande e tão urgente de ouvir alguma voz amiga na contracorrente do neoliberalismo.
Saramago veio pela primeira vez ao megaevento que Ramonet comparou, com humor, aos “jogos olímpicos da crítica da globalização” ou “férias sociais mundiais”. Cavaleiro endividado “Quixote estava preso por dívidas, como nós da América Latina estamos”, disse Galeano, referindo-se ao “anti-herói de dimensões heróicas” de Miguel de Cervantes, inspirador do encontro. Para fornecer provas de que existe um outro mundo sendo gestado na barriga deste – quem sabe uma espécie de contramundo da infâmia -, o escritor contou a história de Vargas, um pintor analfabeto e talentosíssimo que conheceu na Venezuela.
Vargas vivia num povoado escurecido pela exploração do petróleo, um lugar tão feio e fétido que lá o arco-íris era preto e branco e os urubus voavam de costas. Mesmo assim, ele pintava flores, árvores e aves enormes cujo colorido humilhava as pranchetas mais ricas, discorreu ele. “Eu disse aos meus amigos que Vargas era um pintor realista, ele pintava a realidade que não existe mas de que se necessita”, disse. O não-lugar da etimologia da palavra utopia, lembrou, pode ter lugar nos olhos que ainda não enxergam esse lugar, mas o adivinham.
Leia a matéria na integra aqui: http://ow.ly/190iJ .

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