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domingo, 14 de fevereiro de 2010

COPIANDO E REPASSANDO

"Esta secção, tem como objetivo socializar através da leitura dos posts uma obra literária de vulto. Todo dia será postado um texto do livro a ser abordado. Quem tiver sugestões e queira colaborar, envie nome das obras ou as mesmas para este exercício de compartilhar arquivos e conhecidos. Endereço Eletrônico: revupoeta@yahoo.com.br ou revupoeta@gmail.com “.
A OBRA
Vamos iniciar com a coletânea Mulheres, que reuni textos do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. A obra compõe escritos de vários livros do autor, como a trilogia Memória do Fogo, O livro dos Abraços, Vagamundo, Palavras Andantes, Dias e Noites de Amor e Guerra, entre outros. Galeano autor do best seller As veias abertas da América Latina, faz uma homenagem carinhosa a mulheres ilustres e anônimas que ajudaram a construir a História das Américas.
TEXTO
AS DESCARADAS
Em 1952, nos campos de toda a Bolívia vivem-se tempos de mudança, vasta insurgência contra o latifúndio e contra o medo, e no vale de cochabamba tambem as mulheres lançam, cantando e dançando, seu desafio.
Nas cerimônias de homenagem ao Cristo de Santa Vera Cruz, as camponesas quichuas de todo vale acendem velas, bebem chicha e cantam e dançam, ao som de acordeões e charangos, ao redor do crucificado.
As moças casamenteiras começam pedindo a Cristo um marido que não as faça chorar, uma mula carregada de milho, uma ovelha branca e uma ovelha negra, uma máquina de costura ou tantos anéis quanto os dedos que tem as mãos. E depois cantam, com voz estridente, sempre em língua índia, seu altivo protesto: ao Cristo, ao pai, ao noivo, ao marido: prometem amá-lo e bem servi-lo na mesa e na cama, mas não querem apanhar que nem mula de carga. Cantando, disparam balas de deboche, que tem por alvo o macho nu, bastante estragado pelos anos e pelos bichos, que na cruz dorme ou faz que dorme:
Santa Vera Cruz, Malandro:
"Filha minha", estas dizendo. Como pudeste engendrar-me se teu pinto não estou vendo?
" Preguiçosa, preguiçosa", estas dizendo, Santa Vera Cruz, Paizinho. Só que mais preguiçoso és tu Que estas em pé adormecendo.
Malandrinho de rabo enrolado, olhinho espiando mulheres. Cara de rato, velhinho, de nariz esburacado.
Tu não me queres solteira. Me condenas aos filhos, a vesti-los enquanto vivam e enterra-los quando esfriam.
Me vais dar um marido para que me chute e açoite? Por que a flor que se abre murcha marcha para o olvido?

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