Um novo mar (sem cor)
Por Maria José Silveira
Ontem li um artigo de uma editora independente americana onde ela conta como salvou sua pequena editora da falência ao passar a fazer livros digitais. A história é incrível e quem quiser acessá-la na íntegra o link é:
http://digitalbookworld.com/2010/discoverability-still-a-books-biggestproblem/#axzz0l0IIohBI
Para editores, o artigo é uma aula e tanto.
Para mim, como escritora, o que concluí foi o que já andava percebendo: se não me integrar rapidinho às redes sociais virtuais, estou condenando meus livros ao ostracismo. Como ostracismo, no caso, significa desencontro com leitores, e como sou daquele tipo de escritora que escreve exclusivamente para eles, estaria, no mesmo tacho, condenando também minha pessoa de escritora à extinção.
O problema é que essa coisa virtual toda, eu sabia, me daria muito trabalho, ocuparia meu minguado tempo, seria mais um compromisso do meu já compromissado dia, e era isso o que me fazia relutar, e adiar, e deixar passar mas... bem: eu vivo no mundo de hoje ou em que mundo vivo?
Pulei nesse mar.
O que me deu um trabalho danado (e continua dando). Passei o dia me inscrevendo no Facebook, e passei a noite pensando no que terei que fazer para abrir urgente um site/blog.
Quando publiquei meu primeiro livro, meu ideal era muito claro: ser daquele tipo de mãe desnaturada que põe o filho no mundo e simplesmente o deixa seguir. Ele é que estaria se expondo nas estantes, sua capa é que seria fotografada – não eu. Ele é que teria os olhos dos leitores sobre si, enquanto eu ficaria feliz no bem-bom da minha toca, seguindo sua trajetória de longe, feliz da vida vendo-o se virar por aí, recebendo críticas elogiosas (evidente), prêmios, convites para isso ou aquilo. Eu quase podia vê-lo, alvoroçado, dando entrevistas, atendendo telefones, respondendo e-mails, aparecendo na TV. Ele sempre – não eu.
Mas o cruel mundo real é outro.
O cruel mundo real não quer só o livro, quer você.
Quer ver sua cara de escritor, o formato do seu nariz, o jeito de sua fala. Quer esmiuçar você. Em geral para se decepcionar, como bem disse Margaret Atwood: “Querer conhecer um escritor porque gostamos do livro que ele escreveu é como querer conhecer o pato porque gostamos do patê.” Na maioria das vezes o escritor é mais velho, mais gordo, mais baixo, bem menos brilhante do que seu livro deixava a entender.
Atualmente a situação ficou ainda pior e, em muitos casos, parece que o processo se inverteu: você, o autor, é que virou o patê e, caso goste de você é que o leitor vai querer conhecer seu pato.
Além de escrever um livro que interesse ao leitor, e trabalhar para que o leitor possa saber que esse livro existe, o autor ainda tem que fazer o leitor se interessar por sua pessoa de carne e osso – que a essas alturas estará exausta, ensimesmada, olhos perdidos, perguntando a si mesma afinal, onde vim parar e o que é mesmo que eu sou?
Vá lá saber as respostas!
Ainda bem que no caso do Facebook e redes virtuais parecidas tudo é só brincadeira. Tipo hora do recreio. Aceno gostoso e descompromissado a amigos antigos, amigos novos, amigos desaparecidos e por aparecer.
Que venham, então, as ondas desse mar de borbulhas.
E se ele é virtual e sem cor, suas borbulhas não. Tem gente viva por trás, diversa, respirando, colorida.
Acho que vou gostar.
Extraído: http://ow.ly/1AF4G .
Uma lembrança
Há um dia
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