A cultura está no centro das disputas do capitalismo contemporâneo
Minha tia me ligou me dizendo que estou de má vontade com a nova ministra da cultura, a Ana de Hollanda. Não é verdade.
Estou atento, disse para ela.
Eu efetivamente ouvi o que ministra disse em seu discurso de posse e nesse discurso ela se colocou muito distante da dimensão necessariamente política e inclusiva que tem a cultura no momento. Fazer da cultura um agente da democracia é o legado do governo Lula.
Alguns pontos podem ser destacas no discurso da Ministra.
A centralidade da arte e não da cultura.
O risco de colocar a arte em primeiro plano está em se enfatizar o produto do artista, transformando o ministério da cultura em um produtor de espetáculos ou em um distribuidor de “cultura”. Uma grande Funarte, como disse o Belisards no twitter.
Ao centrar o ministério na arte há o risco de nos distanciarmos da noção de cultura que o Gil forjara já em seu discurso de posse, em 2003:
“Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer
coisa, se manifesta para além do mero valor de uso.
Cultura como aquilo que, em cada objeto que
produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura
como usina de símbolos de um povo. Cultura como
conjunto de signos de cada comunidade e de toda a
nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma
de nossos gestos, o senso de nossos jeitos.”
Para mim cultura é isso. Um ministério tem o dever de possibilitar a plenitude da produção e da invenção cultural de um povo. Isso passa pela democratização das possibilidades sensíveis.
O trabalhador que passa 4 horas no ônibus não passa a ter acesso à "cultura" porque agora tem um vale-cultura. O que não quer dizer que o vale-cultura não seja importante.
A cultura deveria assim ser um ministério transversal a todo o governo, estar na mesa em todas as negociações centrais. Como pensar o desenvolvimento, a ciência e a tecnologia, a educação e a economia se o direito à plenitude do que pode, estética e sensivelmente, uma comunidade não é parte do problema.
É por isso que quando a nossa ministra finaliza o discurso dizendo que não há arte sem artista, eu fico preocupado. De maneira abrupta diria: sim, há arte sem artista, mas, mais importante que isso, há cultura para além da arte.
Leia matéria na integra aqui: http://ow.ly/3ywBw .
Eu li!
Há uma semana
Nenhum comentário:
Postar um comentário