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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

CRÔNICA

Futebol e os intelectuais de São Paulo Por Mauro Rosso O futebol, os literatos e duas cidades no Rio de Janeiro... O futebol, todos sabemos, surgiu no limiar do século XX no Rio de Janeiro como “uma grande novidade”, mas por ser esporte de origem inglesa logo cairia no gosto das rodas elegantes da cidade ( que na época cultivavam quase que exclusivamente o remo ) — e de imediato, por suas próprias características , despertaria paixões acirradas, não apenas entre torcedores e admiradores dos clubes então formados ( Payssandu Cricket Club, Fluminense Foot-Ball Club, The Bangu Athletic Club, etc ). Justamente por ter vindo da “Old Albion” (assim era chamada a Inglaterra, ‘ na intimidade’, pelas elites) , em seus primeiros anos na cidade o futebol teve um caráter restrito, praticado preponderantemente por jovens ricos e bem-nascidos — mas já no final da década de 1910 alcançava uma popularidade nunca vista. João do Rio foi o primeiro cronista a detectar a importância do jogo para a cidade , assinando com o pseudônimo de José Antonio José (um de seus ‘disfarces’ jornalísticos : com esse nome, escreveu por exemplo Memórias de um rato de hotel) uma crônica intitulada “Pall Mall Rio – Foot-ball” em O Paiz de 4 de setembro de 1916, onde vaticinava :“Tenho assistido a meetings colossais em diversos países, mergulhei no povo de diversos países, nessas grandes festas da saúde, da força e do ar. Mas absolutamente nunca eu vi o fogo , o entusiasmo, a ebriez da multidão assim .” Na esteira de João do Rio, impressionados com a avassaladora popularidade do futebol, os intelectuais, e notadamente os escritores, se entregaram à tentação e ao desafio de interpretá-lo — e dentre eles um logo se notabilizou como o maior dos adeptos, o mais vibrante entusiasta do novo esporte, tornando-se em pouco tempo grande ideólogo do jogo, mergulhando obstinadamente na defesa apaixonada das vantagens de sua disseminação : Coelho Neto. A atração que o futebol logo exerceu sobre ele manifestou-se já em seu romance Esfinge, publicado em 1908 , em que o personagem James Marian, um inglês hóspede da pensão de miss Barkley, tinha o hábito de “aos domingos, sair cedo com seu material de tênis e com roupa para o foot-ball”. E o futebol passaria a ser, a partir daí, tema onipresente não só nas crônicas e discursos mas também -- e principalmente -- na vida pessoal de Coelho Neto. Sócio do Fluminense, entregou-se cada vez mais à paixão -- pelo esporte e pelo clube. Tanto que chegava a assistir , no mesmo dia, quatro jogos diferentes do Fluminense, pois tinha filhos jogando em cada uma das categorias que o clube disputava ; tamanha paixão, que o levou a liderar a primeira invasão de campo do futebol carioca, inconformado com o juiz que marcara um pênalti a favor do Flamengo num movimentado Fla-Flu no campo da rua Paissandu, e que acabou provocando a anulação do jogo.Tamanha paixão que em 1915 escreveu a letra do primeiro hino do Fluminense [ “O Fluminense é um crisol / onde apuramos a energia / ao pleno ar, ao claro sol / lutando em justas de alegria / o nosso esforço se congraça / em torno do ideal viril / de avigorar a nossa raça / do nosso Brasil ...]­­­­ ,onde fica evidente e bem mais nítida a campanha que ele começava a mover a favor do futebol , verdadeira fonte de energia a ser colocada a serviço do ideal nobre de regeneração da raça brasileira, “um meio de criar uma ‘nova raça’ contra uma malfadada herança cultural”. Vale observar que literatos outros, como Afrânio Peixoto -- para quem o futebol estaria “reformando, senão refazendo o caráter do Brasil ” (em “A educação nacional”, no livro Poeira de estrada, 1918) -- Olavo Bilac,contagiados pelo entusiasmo e a vibração dos escritos de Coelho Neto, também entregaram-se à difusão desses ideais de culto ao corpo e defesa acalorada do esporte como ‘fator de regeneração racial’ . Coelho Neto via o futebol “ajudando a criar uma sociedade na qual os homens , qual os esportistas, fossem adestrados pelo exercício físico, criando um tempo de paz e de harmonia e abrindo o peito para valores nobres de confraternização e integração social”. E os jogadores, para ele, assumiam a feição de verdadeiros missionários de uma causa nobre : propagando os princípios da disciplina e da solidariedade, os atletas dariam ao país grande exemplo, ajudando a consolidar o potencial transformador do futebol .Gerando harmonia e solidariedade entre os homens, controlando seus impulsos e moldando seus corpos e suas mentes na construção de um ideal de pátria, o futebol seria a força propulsora de uma nação forte e vigorosa e os jogadores representantes dessa nova nação que se erguia dos campos. Leia a Integra aqui: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4880

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