“Meu filho Deus que lhe proteja e onde que que esteja eu rezo por vocêEu adoro ver você sorrindo, seu sorriso faz de tudo eu esquecer”. Cansei de ouvir este refrão da canção “Meu Filho Deus que lhe proteja”, grande sucesso de Paulo Sérgio. O leitor entre 10 a 30 anos, deve estar se perguntando: Quem?. Mas se a pessoa que ler tiver mais de 40 anos, com certeza, se lembra de quem estou falando. Certo e errado. Certo porque o Capixaba Paulo Sergio, oriundo da mesma Cachoeiro do Itapemirim, cidade natal do Rei Roberto Carlos, fez enorme sucesso, entre as décadas de 60 e 70, do século passado, sendo tocado muito nas Radios AM deste País, e visto por milhões de pessoas em programas populares de TV, como Chacrinha, Bolinha, Silvio Santos e outros. Errado porque parte dos leitores quarentões, cinquentões, ignoraram este artista, por consideraram ser brega, cafona, detentor de um repertório alienante e adesista, principalmente em tempos de Ditadura Militar e se esforçaram ao longo dos tempos para esquecer e fazer com que as novas gerações sequer ouvíu falar deste icone das empregadas domésticas e porque não o que as elites chamam de povão.
È este povão, que todo o dia de Finados, lotam a quadra 14, tumulo 30.831, do cémiterio do Cajú, um dos mais famosos do Rio de Janeiro, por abrigar entre seus moradores, ilustres politicos como Presidentes da República (Hermes da Fonseca e Prudente de Moraes), atores como Procópio Ferreira e Oscarito, e verdadeiras pérolas de nossa musica como Noel Rosa, Dolores Duran, Cartola, Jackson do Pandeiro, Tim Sindico Maia, e bem defronte ao de Paulo Sérgio, o cantor das multidões, Orlando Silva, que nas décadas de 40 e 50, foi amado e cultuado, tanto quanto seu vizinho de cemiterio, pelas massas populares.
Mas ao contrario do cantor de a Ultima Canção, Orlando Silva, não recebe tantas visitas, como o seu companheiro de viagem eterna. Em todo o dia 02 de Novembro, desde o dia 29 de Julho de 1980, quando Paulo Sergio, adentrou o Cemitério do Cajú, para ir morar no cèu, que sua jazida, é cultuada, por fãs de todo o Brasil, de todas as idades, e cores, e principalmente, por empregadas domésticas, pedreiros, baconistas, catadores de papel, ou seja os pobres, a massa, a favela, o cortiço, a periferia. São pessoas simples e em sua maioria anonimas, que frequentam o tumulo, levando flores, discos, cds, faixas, fotos, recortes de revistas e jornais. Enfim tudo sobre o idolo, alem é claro de passarem o dia todo ouvindo musicas, do Cantor, que em 1968, ameaçou o trono de Roberto Carlos.
Surgiu como um autentico cantor Romantico, Paulo Sergio encantou a midia, que queria um motivo para uma disputa, entre dois idolos da juventude, que nunca, cairam nesta cilada. Embora uma outra mídia, a chamada da tal MPB de fato, criticou Paulo Sergio, dizendo que era um imitador barato do Rei, inclusive na voz.. Mas eles, sempre se respeitaram. Só para ter uma idéia do que representou o cantor, naquele final dos anos 60, seu compacto com a musica “A Ultima Canção”, vendeu em três semanas, mais de 60mil cópias, que para os padrões da época, só Roberto Carlos, vendia desta forma. Foram 13 LPs, gravados, e algumas colêtaneas, dos quais lhe rendeu mais de 8milhões de discos vendidos, até a sua morte.
Mas sua trajetória, como de todos os cantores, da chamada música brega, não foram e não são reconhecidos, como parte da MPB. Na maioria dos livros sobre a História da Música Brasileira, Paulo Sergio tem sua História excluída ou na melhor das hipoteses, um verbetizinho, quase inexpressivo. Tal qual a imensa maioria dos pobres, estes compradores e admiradores de sua música, o artista de Cachoeiro, é cortado, quase que como um cancêr ou uma praga, dos meios literarios, e musicais. Poucos são os artistas que ousam lhe fazer tributos, fora do circulo dos bregas&cafonas.
A tese de que somos um povo que não discrimina, já caiu por terra, milhões de vezes. Somos um País, que o Racismo existe, a Homofobia é violenta, as mulheres ainda são tratadas como sexo fragil e de cama e mesa, que a questão social é condição para estabelecer privilégios na sociedade, as artes tambem não são excessão á regra. Para artistas do naipe de Tim Maia, Elis Regina, Cazuza e tantos outros, que não estão mais neste mundo, os espaços para a preservação da memória de suas vidas e obra, são diversos: tocam nas radios, seus discos são reeditados, há tributos, regravações, livros, filmes e espetaculos teatrais. Mas para a Dona Maria, a Zefa, o diogo sapateiro, a amélia cobradora de onibus, o passoca, reciclador de lixo, só a um espaço de culto a um artista como Paulo Sérgio, seu tumulo.
Paulo Sergio de Macedo, morreu em um domingo, após cantar no programa do Bolinha, da TV Bandeirante e de se apresentar, em um dos palcos, onde o “povão” sempre esta, o circo. Um aneurisma cerebral, interrempeu a carreira, de um dos maiores nomes do cancioneiro popular. Uma tradução das amarguras, desilusões, alegrias, aventuras, dos pobres deste multicolorido Brasil, como gosta de dizer, o plural Darci Ribeiro. Paulo Sergio, foi ao lado de Odair José, Waldick Soriano, Nelson Ned, Agnaldo Timotéo e outros, a voz dos que estavam á margem do que acontecia nos porões da Ditadura, as margens de uma moradia e emprego decente, mas que viam neste universo musical, uma identidade com estes cantores, que como o “povão”, vieram da lama, do caos, como cantava Chico Science.
E eu me rendo á arte de Paulo Sergio, que hoje completa 29 anos de sua partida.
RECOMENDAÇÃO DE LEITURA SOBRE PAULO SÉRGIO E A MÚSICA BREGA:
Eu não sou cachorro não
Autor: Paulo César Araujo
Editora: Record
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Para Ler na Rede:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=31666653&tid=5335414993148625859&na=1&nst=1 .
Eu li!
Há uma semana
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