Um encontro com a jornalista e agitadora cultural Patrícia Galvão
Por Márcia Costa
Patrícia Galvão veio ao meu encontro em Santos, há seis anos, quando a atriz Christiane Tricerri estava na cidade para apresentar no Sesc, onde eu trabalhava como assessora de imprensa, sua peça Pagu Que. Afim de produzirmos uma reportagem para a retransmissora de uma TV local, eu e Christiane circulamos por alguns espaços que marcaram a vida de Pagu/Patrícia: a Cadeia Velha, hoje transformada em Oficina Cultural Pagu, primeiro cárcere da militante política, uma das prisões mais assustadora da década de 30. Caminhamos pelos canais, onde a atriz declamou o poema Canal. Chegamos até a praia, um dos lugares preferidos de Patrícia em Santos.
Não houve tempo para visitarmos o túmulo de Patrícia no Cemitério do Paquetá, a praça erguida na entrada da cidade de Santos em sua homenagem, a Praça da Independência, que ela frequentava assiduamente por causa do Bar Regina (ponto de encontro de intelectuais e amantes da arte), o jornal A Tribuna, onde trabalhou nos seus últimos anos de vida, o Teatro Municipal (erguido após uma luta da cidade que ela levou para o jornal), além de outros locais onde Patrícia deixou sua marca. Mas houve tempo suficiente para trocarmos idéias sobre Patrícia, sobre a vida.
Este encontro provocou em mim a dupla admiração por Christiane e Patrícia, duas mulheres apaixonadas pelo teatro, pela arte, pela vida e pelas idéias. Duas mulheres instigantes. Durante nossa conversa, contei a Christiane que gostaria de fazer mestrado e ela rapidamente me sugeriu estudar os textos de Patrícia em A Tribuna, algo ainda não explorado. Essa vereda ficou guardada em minha memória por algum tempo. Anos depois, no mestrado em Comunicação, ao buscar uma jornalista que tivesse dado grande contribuição cultural para a cidade e o país, busquei por Patrícia nas páginas do jornal santista.
Não conheci a fundo Christiane, o que seria muito bacana, mas por meio dela conheci Patrícia e entendi o quanto esta figura a fascinou. Agora nossos caminhos voltam a se cruzar para celebrar o centenário de Patrícia na Casa das Rosas – Christiane vai falar de teatro e de Patrícia, eu falarei sobre o jornalismo de Patrícia junto com Juliana Neves (programação completa aqui). Lá também encontrarei outros e outras fascinados (as) pela obra-vida de Pagu/Patrícia, como a professora Lúcia Teixeira Furlani, há duas décadas debruçada sobre o assunto.
Nas páginas de A Tribuna estão os registros de uma jornalista que ensinou aos seus leitores e a mim sobre literatura, arte, vida. Nelas estão os registros das atividades de Patrícia como agitadora cultural, além de escritora, tradutora e diretora de teatro. Os textos de Patrícia e as entrevistas de testemunhas da época revelaram este seu duplo papel tanto como intelectual presente na redação quanto na vida cultural, práticas que buscou relacionar e às quais se dedicou exclusivamente após abandonar a militância político-partidária.
De 1954 a 1962, criou no jornal colunas semanais sobre literatura, teatro e TV, foi repórter de cultura e fez até o horóscopo, além de ter traduzido na imprensa obras de autores como Sigmund Freud, Octávio Paz, Eugène Ionesco e Henri Heine (algumas destas traduções foram realizadas em parceira com Geraldo Ferraz, seu companheiro e editor do jornal). Em 1956, em uma das primeiras colunas sobre TV no país – e uma das mais duradouras colunas criadas por ela –, intitulada Viu? Viu? Viu?, realizava comentários sobre programas de televisão sob o pseudônimo Gim.
Leia a matéria na Integra aqui: http://ow.ly/20iTv
Eu li!
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