A imprensa legitimadora
Mesmo com a investigação sob sigilo, mídia levanta hipóteses para “justificar” chacina contra os moradores de rua
Marcio Zonta
de São Paulo (SP)
Das sete vítimas da chacina contra moradores de rua ocorrida na madrugada de 11 de maio, no bairro do Jaçanã, no limite entre São Paulo e Guarulhos, apenas uma mulher sobreviveu.
Segundo o delegadoLuiz Fernando Lopes Teixeira, da 3ª Delegacia de Homicídios Múltiplos do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso, trata-se de uma moça branca de 25 anos.
Segundo informativo lançado pelo Movimento Nacional da População de Rua, três vítimas – até o momento, ainda não identificadas – eram jovens cuja faixa etária aparentava variar entre 25 e 35 anos; dois eram de cor parda e um de cor branca.
As demais vítimas já identificadas são: Reinaldo Rodrigues Ananias (pardo, idade variando entre 25 e 30 anos), Adriano de Jesus (cor parda, 25 anos) e Manoel do Nascimento Batista Cerqueira de Jesus (negro, 25 anos, provável morador de um conjunto habitacional Cingapura).
Segundo os depoimentos das primeiras testemunhas ao DHPP, as vítimas sofreram vários disparos efetuados por quatro homens em duas motos. Os criminosos usavam capacetes e fugiram em alta velocidade, dificultando a identificação.
Mídia
Mesmo que o delegado Teixeira mantenha a investigação em sigilo, o noticiário sobre os assassinatos “revelou” que o local do ocorrido seria um ponto de tráfico de drogas e que haviam sido achados cachimbos de crack e um pó branco, que poderia ser cocaína a ser utilizada pelas vítimas. Outras versões cogitaram, ainda, que os moradores de rua teriam sido mortos por vingança, por estarem cometendo pequenos roubos e furtos e incomodando outras pessoas.
Na opinião de Átila, ex-morador de rua e um dos coordenadores do Movimento Nacional da População de Rua, a cobertura da imprensa sobre a chacina é preocupante. “A imprensa procura a conotação sensacionalista. Ela não enfoca que outros níveis econômicos da sociedade, por exemplo, também usam crack, e justifica a violência contra os moradores de rua porque eles são alcoólatras ou usam drogas”, observa.
Átila concorda que muitas pessoas habitam a rua devido a problemas com drogas, mas, “daí, dar esse desfecho, de matar em vez de tratamento, não é o certo”.
“Massacram vidas humanas em nome disso. Justificam a repressão policial e não colocam que isso seria um caso de tratamento de saúde, de se criar clínicas públicas de recuperação que os tragam os moradores de rua viciados em drogas] de volta ao convívio social e familiar, dignamente”, conclui.
Extraído: http://ow.ly/21EbC .
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