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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

COPIANDO E REPASSANDO

"Esta secção, tem como objetivo socializar através da leitura dos posts uma obra literária de vulto. Todo dia será postado um texto do livro a ser abordado. Quem tiver sugestões e queira colaborar, envie nome das obras ou as mesmas para este exercício de compartilhar arquivos e conhecidos. Endereço Eletrônico: revupoeta@yahoo.com.br ou revupoeta@gmail.com “.
A OBRA
Vamos iniciar com a coletânea Mulheres, que reuni textos do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. A obra compõe escritos de vários livros do autor, como a trilogia Memória do Fogo, O livro dos Abraços, Vagamundo, Palavras Andantes, Dias e Noites de Amor e Guerra, entre outros. Galeano autor do best seller As veias abertas da América Latina, faz uma homenagem carinhosa a mulheres ilustres e anônimas que ajudaram a construir a História das Américas.
O TEXTO
CONFISSÃO DO ARTISTA
Eu sei que ela é uma cor e um som. Se pudesse bmostra-la a você !
Dormia ali, nua, abraçando as próprias pernas. Eu amava ela a alegria de animal jovem e ao mesmo tempo amava o pressentimento da decomposição, porque ela havia nascido para desfazer-se e eu sentia pena que fossemos parecidos nisso. Mostrava a pele do ventre, que parecia raspada por um pente de metal. Essa mulher ! Algumas noites saía luz de seus olhos e ela não sabia.
Passo as horas procurando-a, sentado na frente do cavalete, mordendo os punhos, com os olhos cravados numa mancha de tinta vermelha que parece ao entusiasmo dos músculos e a tortura dos anos. Olho até sentir que meus olhos doem e finalmente creio que começo a sentir, no escuro, as pulsações da pintura crescendo e transbordando, viva, sobre a tela branca, e creio que escuto o ruído dos pés descalços sobre a madeira do chão, sua canção triste. Mas não. Minha própria voz avisa: " A cor é outra. O som é outro".
Levanto, e cravo a espátula nessa víscera vermelha e rasgo a tela de cima para baixo. Depois de mata-la, deito de boca para cima, arfando como um cão.
Mas não posso dormir. Lentamente vou sentindo que volta nascer em mim a nescessidade de par-la. Ponho o casaco e vou beber vinho nos botecos do porto.

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