Seguidores

Arquivo do blog

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

COPIANDO E REPASSANDO

"Esta secção, tem como objetivo socializar através da leitura dos posts uma obra literária de vulto. Todo dia será postado um texto do livro a ser abordado. Quem tiver sugestões e queira colaborar, envie nome das obras ou as mesmas para este exercício de compartilhar arquivos e conhecidos. Endereço Eletrônico: revupoeta@yahoo.com.br ou revupoeta@gmail.com “.
A OBRA
Vamos iniciar com a coletânea Mulheres, que reuni textos do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. A obra compõe escritos de vários livros do autor, como a trilogia Memória do Fogo, O livro dos Abraços, Vagamundo, Palavras Andantes, Dias e Noites de Amor e Guerra, entre outros. Galeano autor do best seller As veias abertas da América Latina, faz uma homenagem carinhosa a mulheres ilustres e anônimas que ajudaram a construir a História das Américas.
O TEXTO
BEATRIZ
Pedro de Alvarado tinha casado com Francisca, mas Francisca caiu fulminada pela água de flor de laranjeira que bebeu no caminho de Vera Cruz. Então, casou com Beatriz, a irmã de Francisca. Beatriz estava esperando por ele na Guatemala quando soube, há dois meses, que era viúva.
Cobriu sua casa de negro por dentro e por fora e pregou portas e janelas para fartar-se de chorar sem que ninguem visse.
Chorou olhando no espelho seu corpo nu, que tinha ficado seco de tanto esperar e já não tinha nada para esperar, corpo que não cantava, boca que só era capaz de dizer: - Estas aí?
Chorou por esta casa que odeia e por esta terra que não é a sua e pelos anos gastos entre esta casa e a igreja, da missa á mesa e do batismo ao enterro, rodeada de soldados bêbados e de servas indígenas que lhe provocam asco. Chorou pela comida que lhe faz mal e por aquele que não vinha nunca, porque sempre havia alguma guerra para guerrear ou terra para conquistar.
Chorou por tudo que tinha chorado em sua cama sem ninguem, quando dava um salto cada vez que latia um cão ou cantava um galo e sozinha aprendia a ler a escuridão e escutar o silêncio e a desenhar no ar. Chorou e chorou, partida por dentro. Quando por fim saiu do claustro, anunciou: - Eu sou a governadora da Guatemala.
Pouco pode governar.
O vulcão esta vomitando uma catarata de água e pedras que afoga a cidade e mata tudo o que toca. O dilúvio vai avançando até a casa de Beatriz, enquanto ela corre ao oratório, sobe no altar e se abraça á virgem. Suas onze criadas se abraçam ás suas pernas e se abraçam entre si, e Beatriz grita: - Estas aí?
A tromba arasa a cidade que Alvarado fundou, e enquanto o rugido cresce Beatriz continua gritando: - Estas aí?

Nenhum comentário:

Postar um comentário