Redes Culturais: uma avaliação inicial
Percepções e gargalos na criação, desenvolvimento e atuação em Redes Culturais: uma avaliação inicial.
O desenvolvimento e fortalecimento de redes de articulação envolvendo entes e agentes culturais, assim como sua interlocução com entidades e foros decisórios, tem se monstrado uma temática em ascenção, não apenas pela academia, mas pelo próprio movimento cultural brasileiro. Dessa forma, podemos considerar como um dos mais significativos gargalos atuais da política cultural nacional, seja pública ou privada, a ainda baixa efetividade e representatividade das redes de articulação entre os entes e agentes que compõe o movimento. Apesar de marcos importantes terem ocorrido em uma história recente da política pública nacional, como o caso dos Programas Cultura Viva e o Mais Cultura, ainda encontramos barreiras na aproximação desses nós das diversas redes que potencialmente entralaçariam o movimento, o fortalecendo nas dimensões simbólica, cidadã e econômica.
Devido a esse cenário, ao longo dos meses de outubro e novembro de 2010, a Incubadora de Arte e Cultura do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidede de Brasília (CDT/UnB) estruturou uma sondagem inicial das percepções e gargalos na criação, desenvolvimento e atuação em redes culturais, conectando as vivências de 33 representantes do movimento cultural, organizações internacionais, academia, entidades do terceiro setor, governo, empresariado, entre outros. Por meio de entrevistas presenciais e questionários virtuais, foram realizadas de 7 a 13 perguntas, a depender do modelo de abordagem, sobre objetivos de redes culturais, motivação para atuação em rede, elementos e agentes envolvidos nessas arquiteturas e dificuldades encontradas na cooperação cultural.
Dentre os principais resultados alcançados pela pesquisa, foi possível observar que, na opinião dos participantes, os principais objetivos de uma rede cultural local deveriam ser formação em cultura e formação e gestão de políticas culturais. A otimização da produção e/ou gestão cultural seria, por sua vez, a principal motivação para agentes atuarem nesses espaços de cooperação.
Em relação à estruturação projetada de uma rede, regras e papéis definidos e claros, assim como espaços de afirmação e projeção individual e coletiva, são considerados importantes; enquanto o relacionamento interpessoal dos participantes foi avaliado como de extrema importância. Quando analisamos a composição da rede em modelação, além da participação do próprio movimento cultural, a participação do terceiro setor também é considerada extremamente importante. Empresariado, governo, academia e organizações internacionais também são encaradas como importantes para essa composição.
Na prospecção dos principais gargalos e sugestões de encaminhamento para a criação e desenvolvimento de redes culturais, a pesquisa demonstrou que a principal dificuldade encontrada são os gargalos técnicos, logo acima da confiança entre os agentes e entes culturais. Majoritariamente, a ação percebida como mais importante para apoiar a criação e fortalecimento dessas redes foi o desenvolvimento de eventos presenciais de articulação.
Perante essas informações, podemos constatar que a discussão sobre redes ainda é recente e pouco internalizada ao movimento cultural que participou da pesquisa. Além dessa questão, pode-se constatar que ainda não há uma “cultura colaborativa” instalada, potencial, diferentemente do que era colocado como hipótese ao início da pesquisa.
A matéria institucional e o relatório resumido da pesquisa podem ser acessados clicando aqui.
A partir dessa avaliação inicial, espera-se fomentar iniciativas que fortaleçam o compartilhamento de conhecimentos, experiências e tecnologias e a realização de negócios e parcerias entre empreendedores culturais, além de fortalecerem redes culturais existentes e estimularem a geração de novas propostas de cooperação.
Bibliografia:
LIMA, Clóvis. Trabalho imaterial, produção cultural colaborativa e economia da dádiva. 2009.
OLAVE, Maria. Redes de Cooperação Produtiva: uma estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e médias empresas. 2001.
RABELO, João. Redes culturais e desenvolvimento local: a experiência da comum. 2005.
RUBIM, Antonio. Políticas e Redes de Intercâmbio e Cooperação em Cultura no Âmbito Ibero-Americano. 2005.
SANTOS, Patrícia. Redes de Colaboração Científica Interdisciplinares: estudo de caso na Rede Brasileira de Universidades Federais. 2008.
Gustavo Pereira Vidigal é coordenador da Incubadora de Arte e Cultura do CDT/UnB
Site: http://www.cdt.unb.br/articuladf/
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