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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

COPIANDO E REPASSANDO

"Esta secção, tem como objetivo socializar através da leitura dos posts uma obra literária de vulto. Todo dia será postado um texto do livro a ser abordado. Quem tiver sugestões e queira colaborar, envie nome das obras ou as mesmas para este exercício de compartilhar arquivos e conhecidos. Endereço Eletrônico: revupoeta@yahoo.com.br ou revupoeta@gmail.com “.
A OBRA
Vamos iniciar com a coletânea Mulheres, que reuni textos do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. A obra compõe escritos de vários livros do autor, como a trilogia Memória do Fogo, O livro dos Abraços, Vagamundo, Palavras Andantes, Dias e Noites de Amor e Guerra, entre outros. Galeano autor do best seller As veias abertas da América Latina, faz uma homenagem carinhosa a mulheres ilustres e anônimas que ajudaram a construir a História das Américas.
O TEXTO
MARIANA
1645, ano de catástrofes para a cidade. Uma fita negra balança em cada porta. Os invisíveis exércitos do sarampo e da difteria invadiram e estão arrasando. A noite caiu em seguida do amanhecer e o vulcão Pichincha, o rei da neve, explodiu: um grande vômito de lava e fogo caiu sobre os campos e um furacão de cinzas varreu a cidade. - Pecadores, pecadores!
Como o vulcão, o padre Alonso de Roias jorra pela boca. Do púlpito brilhante da igreja dos Jesuítas, igreja de ouro, o padre Alonso golpeia o próprio peito, que soa enquanto chora, grita, clama: - Aceita, Senhor, o sacrificio do mais humilde de teus servos! Que meu sangue e minha carne expiem os pecados de Quito!
Então uma moça se levanta aos pés do púlpito e serenamente diz: - Eu.
Frente á multidão que lota a igreja, Mariana anuncia que é ela a escolhida. Ela acalmará a cólera de Deus. Ela será castigada por todos os castigos que a cidade merece.
Mariana jamais fez de conta que era feliz nem sonhou que era feliz, nem dormiu nunca mais do que quatro horas. A única vez que um homem roçou sua mão, ele ficou doente, com febre, durante uma semana. Desde que era menina decidiu ser a esposa de Deus e não lhe dá seu amor em um convento, e sim nas ruas e nos campos: não bordando nem fazendo doces e geléias na paz do claustro, mas rezando de joelhos sobre os espinhos e as pedras e buscando pão para os pobres, remédio para os doentes e luz para os anoitecidos que ignoram a lei divina.
Às vezes, Mariana sente-se chamada pelo rumor da chuva ou o crepitar do fogo, mas sempre soa mais forte o trovão de Deus: esse Deus da ira, barba de serpentes, olhos de raio, que em sonhos aparece nu para coloca-la á prova.
Mariana regressa á sua casa, estende-se na cama e se dispõe a morrer no lugar de todos. Ela paga o perdão. Oferece a Deus sua carne para que coma e seu sangue e suas lágrimas para que beba até ficar tonto e esquecer.
Assim cessarão as pragas, se acalmará o vulcão e a terra deixará de tremer.

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