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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

COPIANDO E REPASSANDO

"Esta secção, tem como objetivo socializar através da leitura dos posts uma obra literária de vulto. Todo dia será postado um texto do livro a ser abordado. Quem tiver sugestões e queira colaborar, envie nome das obras ou as mesmas para este exercício de compartilhar arquivos e conhecidos. Endereço Eletrônico: revupoeta@yahoo.com.br ou revupoeta@gmail.com “.
A OBRA
Vamos iniciar com a coletânea Mulheres, que reuni textos do escritor Uruguaio Eduardo Galeano. A obra compõe escritos de vários livros do autor, como a trilogia Memória do Fogo, O livro dos Abraços, Vagamundo, Palavras Andantes, Dias e Noites de Amor e Guerra, entre outros. Galeano autor do best seller As veias abertas da América Latina, faz uma homenagem carinhosa a mulheres ilustres e anônimas que ajudaram a construir a História das Américas.
O TEXTO
MARIA
- Cada dia tenho mais problemas e menos marido! - suspira Maria Del Castillo. Ao seus pés, o tramoísta, o apontador e a primeira atriz oferecem consolo e brisa de seu leque.
No turbio crepúsculo, os guardas da Inquisição arrancaram Juan dos braços de Maria e atiraram-no ao cárcere porque linguas envenenadas dizem que ele disse, enquanto escutava o evangelho: - Eia! que não tem outra coisa que viver e morrer!
Poucas horas antes, na praça da matriz e pelas quatro ruas que dão esquina aos mercadores, o negro Lázaro tinha apregoado as novas ordens do vice-rei de Lima sobre os teatros de comédias. Manda o vice-rei, conde de Chinchón, que uma parede de pau a pique separe as mulheres dos homens no teatro, sob pena de cárcere e multa a quem invada o território do outro sexo.
Tambem dispõe que acabem as comédias mais cedo, ao repicarem os sinos de oração, e que entrem e saem homens e mulheres por portas diferentes, para que não continuem as graves ofensas contra Deus Nosso Senhor na escuridão dos becos. E isso fosse pouco, o vice-rei decidiu que baixem os preços das entradas. - Nunca me terá!- clama Maria. - Por muita guerra me declare, nunca me terá!
Maria Del Castillo, grande chefe dos cômicos de Lima, leva intactos o ar e a beleza que a fizeram celebre, e aos sessenta longos anos ainda ri das tapadas, que com um xale cobrem um olho: como ela tem belos os dois, a cara descoberta olha, seduz e assusta. Era quase menina quando escolheu este oficio de maga; e faz meio século que enfeitiça multidões nos palcos de Lima. Mesmo que queira, explica, já não poderia mudar o teatro pelo convento, pois não gostaria Deus de te-la como esposa, depois de três matrimônios tão desfrutados.
Por muito que agora os inquisidores a deixem sem marido e que os decretos do governo pretendam espantar seu público, Maria jura que não entrará na cama do vice-rei: - Nunca, nunca!
Contra o vento e as marés, sozinha e solitária, ela continuará oferecendo obras de capa e espada em seu teatro de comédias, atrás do mosteiro de Santo Agostinho. Daqui a pouco reporá a Monja Alferez, do notável engenho peninsular Juan Pérez de Montalbán, e estreará um par de obras bem apimentadas, para que todos dancem e cantem e tremam de emoção nesta cidade onde nunca acontece nada, tão chata que morrem todos bocejando.

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