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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A PALO SECO

Se diz a palo seco o cante sem guitarra; o cante sem; o cante; o cante sem mais nada; se diz a palo seco a esse cante despido: ao cante que se canta sob o silêncio a pino. Este é o trecho inicial do poema "A Palo Seco" do maravilhoso poeta, João Cabral de Mello Neto. Sua mensagem traz o refletir de um canto sem instrumentos, onde só a voz é ouvida e o silêncio é obrigatório ao ouvinte. Na verdade o texto foi inspirado, no canto vindo da Andaluzia na Espanha, onde cantar á capela, ganhou esta denominação em língua espanhola, onde o poeta Baiano disseca no restante de sua obra, o quão seco e triste era a vida do sertanejo, em volta com a fome e a miséria nordestina. O canto serve como choro, um lamento. Mas serve igualmente para demonstrar fé e esperança em dias melhores, onde a música saída a palo corta feito lamina afiada as agruras do destino. Provavelmente inspirado em João Cabral, que o cearense Belchior, escreveu a canção com o mesmo nome do poema. Em uma das estrofes o compositor mostra de cara esta influencia: E eu quero é que esse canto torto feito faca Corte a carne de vocês Em um outro mais uma referencia explicita ao poema: Sei que assim falando pensas Que esse desespero é moda em 76 Mas ando mesmo descontente Desesperadamente eu grito em português È este grito através da música, tal qual João Cabral de Mello Neto com a poesia, é que Belchior pautou suas obras. Foi falando através de letras antológicas e profundas, entre elas, Paralelas, Como Nossos Pais, Comentários sobre John, Divina Comédia Humana e outras, que desnudaram o latino Americano. Falando do universo de um Continente colonizado e explorado pelo Europeus, dissecado em suas riquezas e dizimado literalmente pela força bruta das armas. Contextualizador de seu tempo, Belchior traça um perfil deste Americano, índio, negro e miscigenado, um ser humano comum e sofrido, mas otimista quanto á seu próprio futuro.
Amante dos Beatles e dos Rolling Stones, o compositor poeta, solta seu berro, na analise comportamental, delineando o ritmo blues/rock com Luis Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Não se intimida com os anos de chumbo, grita em A Palo Seco, que o mesmo corta a carne de vocês.
Cresci ouvindo Belchior. Cresci admirando a obra deste ícone da MPB, e não poderia deixar de prestar homenagens a ele. Assim estou desenvolvendo junto a dois amigos, Cláudio Corrêa e Mauro Seabra, o projeto da Banda A Palo Seco, em minha cidade Limeira/SP.
Abrigaremos no repertório essencialmente canções do Cearense e outras de mesma temática. Em breve maiores detalhes.
Por fim, salve, salve à América Latina, cantada À Palo Seco. JANJÃO- POETA, ESCRITOR. LIMEIRA/SP

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