Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;
se diz a palo seco
a esse cante despido:
ao cante que se canta
sob o silêncio a pino.
Este é o trecho inicial do poema "A Palo Seco" do maravilhoso poeta, João Cabral de Mello Neto. Sua mensagem traz o refletir de um canto sem instrumentos, onde só a voz é ouvida e o silêncio é obrigatório ao ouvinte. Na verdade o texto foi inspirado, no canto vindo da Andaluzia na Espanha, onde cantar á capela, ganhou esta denominação em língua espanhola, onde o poeta Baiano disseca no restante de sua obra, o quão seco e triste era a vida do sertanejo, em volta com a fome e a miséria nordestina. O canto serve como choro, um lamento. Mas serve igualmente para demonstrar fé e esperança em dias melhores, onde a música saída a palo corta feito lamina afiada as agruras do destino.
Provavelmente inspirado em João Cabral, que o cearense Belchior, escreveu a canção com o mesmo nome do poema. Em uma das estrofes o compositor mostra de cara esta influencia:
E eu quero é que esse canto torto feito faca
Corte a carne de vocês
Em um outro mais uma referencia explicita ao poema:
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
È este grito através da música, tal qual João Cabral de Mello Neto com a poesia, é que Belchior pautou suas obras. Foi falando através de letras antológicas e profundas, entre elas, Paralelas, Como Nossos Pais, Comentários sobre John, Divina Comédia Humana e outras, que desnudaram o latino Americano. Falando do universo de um Continente colonizado e explorado pelo Europeus, dissecado em suas riquezas e dizimado literalmente pela força bruta das armas. Contextualizador de seu tempo, Belchior traça um perfil deste Americano, índio, negro e miscigenado, um ser humano comum e sofrido, mas otimista quanto á seu próprio futuro.
Amante dos Beatles e dos Rolling Stones, o compositor poeta, solta seu berro, na analise comportamental, delineando o ritmo blues/rock com Luis Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Não se intimida com os anos de chumbo, grita em A Palo Seco, que o mesmo corta a carne de vocês.
Cresci ouvindo Belchior. Cresci admirando a obra deste ícone da MPB, e não poderia deixar de prestar homenagens a ele. Assim estou desenvolvendo junto a dois amigos, Cláudio Corrêa e Mauro Seabra, o projeto da Banda A Palo Seco, em minha cidade Limeira/SP.
Abrigaremos no repertório essencialmente canções do Cearense e outras de mesma temática. Em breve maiores detalhes.
Por fim, salve, salve à América Latina, cantada À Palo Seco.
JANJÃO- POETA, ESCRITOR. LIMEIRA/SP
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