Verde, amarelo e de todas as outras cores
Por Ronald Gonçales
ronaldgon18@hotmail.com
@ronaldgon
Quando criança, tinha fobia à escuridão. Lembro–me, muito bem, que me cobria com a coberta até a cabeça, para evitar “enxergar a escuridão” que a noite traz, principalmente quando acompanhada de grandes tempestades. Aqueles raios breves, que ilumina rapidamente toda casa, com os barulhos turbulentos dos trovões, me causavam aversão. Nem tinha coragem de ir ao banheiro nas madrugadas, tamanho era o medo.
O tempo passou e hoje admiro a escuridão e as tempestades. Os mesmos raios e os instigantes trovões oferecem um cenário completamente apaixonante. Quebrei tabus e venci os meus medos para verificar que, atrás dessa fobia toda, existia algo de muito belo: a noite e todo o mistério que ela contém.
No domingo, 14 de novembro, a sociedade viu possíveis fatos de agressões na Avenida Paulista, em São Paulo, por homofobia. Na mesma avenida que recebe a maior Parada Gay do mundo. Dá para entender? Não.
O motivo das agressões não interessa. Vi um dos pais declarando que o filho teria sido cantado por uma das vítimas, o que gerou a briga. Imagine se a moda pega? A garota chega ao cara na balada, este não quer e a espanca?
Há, por trás de atos como esses, o enrustido e o temido preconceito que ainda, infelizmente, existe nas pessoas.
Acredito que ninguém seja obrigado a defender os homossexuais e, tampouco, ter relações com pessoas do mesmo sexo caso não queira. As pessoas, religiosas ou não, podem ter opiniões formadas sobre o assunto, no sentido de não concordarem com isso, enfim: há um leque de possibilidades. Mas é justo termos fobia, nojo ou aversão a outros seres humanos? É justificável atacar alguém simplesmente porque a orientação sexual dela é diferente da nossa? Até quando a gente vai ter que tolerar esse tipo de ação?
Intolerância merece as pessoas que não se respeitam. Logo no Brasil, um país tão cheio de ótimas misturas. Tão colorido, de uma diversidade cultural tão rica e talentosa... Ainda excluem gays? Pior: ainda matam gays? Por quê?
Não seria a hora de a mídia entrar em ação? Oras: não temos todos direito à liberdade e à expressão? E o jornalismo não deve defender o interesse público? É o momento que o jornalismo tem de exigir do Poder Público, normas que garantam os direitos constitucionais dos seres humanos... Da vida.
Mas a mídia cala–se. A mesma mídia que, exaustivamente, proclamou tanto o aborto, por exemplo, nas eleições 2010. Não deu simplesmente uma notícia, em um dia, e depois se calou. Pelo contrário, ficou meses e meses tentando manipular o público com informações tendenciosas que estampavam as preferências eleitorais. Uma vergonha.
A mídia, infelizmente, faz sensacionalismo apenas com aquilo que lhe é de interesse. E não que o tema que trago neste artigo deveria ser tratado de forma sensacionalista. Mas deve ser tratado sim com cuidado, sobretudo por aqueles que estão aí para defender a população, sendo minoria ou não, e então enquadramos a mídia, os políticos e as autoridades de forma geral.
Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), por exemplo, trataram a homossexualidade de forma tímida nos debates. Medo de perder votos? Pode ser. Mas, e agora? Dilma, a primeira presidenta do Brasil, que possui toda sensibilidade de uma mulher, vai continuar dando os ombros para um assunto que fere e mata pessoas o tempo todo?
No dia 15 de julho deste ano, o Senado da Argentina aprovou – com o apoio da presidenta de lá, Cristina Kirchner – a lei que autoriza o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo no país, tornando–se o primeiro da América Latina a permitir o casamento gay. O preconceito acaba? Não, mas é um passo importante para a progressão de novos debates sobre o tema.
Tramita no Brasil, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/06, que propõe a criminalização da homofobia. Segundo o documento, torna crime a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, ficando o autor do crime sujeito à pena, reclusão e multa. Diversos movimentos LGBT têm se esforçado para que o projeto seja aprovado pelo Senado Federal, mas há resistência de setores conservadores. Resistência à vida? Resistência à felicidade? Resistência às cores que tornam o nosso país tão tropical e bonito?
Não dá mesmo para entender o que acontece, às vezes, na sociedade. Quando é que seremos capazes de deixar de olharmos apenas para nós mesmos para nos abraçarmos e termos a certeza de que, juntos, seremos capazes de transformar o nosso mundo num lugar muito mais aconchegante?
Pertencemos todos a uma mesma raça, a humana... E por mais opiniões ou convicções contrárias que temos, não é nosso direito – e nem cabe a nós – sentirmos aversão a alguém que integra a mesma raça que a nossa.
O Brasil é verde... É amarelo... E se completa com todas as outras cores, principalmente quando o que se busca é a verdadeira felicidade, aliás, já repararam que ela não tem cor?
Eu li!
Há uma semana
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