"...choram a morte do seu cantor..."
Só hoje fiquei sabendo que o cantor e compositor Abílio Manoel, português de nascimento radicado no Brasil, faleceu na terça-feira, aos 63 anos. Teve um enfarte enquanto assistia ao jogo Espanha e Portugal, vestindo a camiseta do seu país natal. Tive contato com ele pela Internet em 2004, no mesmo grupo de discussão onde também conheci Zé Rodrix e outros notáveis. Abílio ficou pouco tempo naquele fórum, mas suficiente para me satisfazer uma curiosidade: quem era a "Andréa" da música que fez sucesso bem na época em que comecei a ouvir música pra valer, em 1971? "Conheci-a nos anos 70 quando morei no México. Morenaça ao estilo latino-fatal", ele respondeu. Outra de suas revelações foi que o título de um de seus maiores sucessos, "Pena Verde", nasceu da expressão que as televisões usavam muito antes das reprises das novelas da Globo, no slide que exibiam enquanto rebobinavam o vídeo-tape para repetir um lance: "vale a pena ver de novo".
Abílio Manoel fazia o gênero do cantor popular. Por isso, estranhei quando, em 1974, a Rádio Continental de Porto Alegre começou a tocar "Andina". A Continental era uma rádio alternativa, que não rodava nada que pudesse ser remotamente tachado de brega. Mas o diretor de programação, Marcus Aurélio Wesendonk, tinha consciência política e era muito atento às letras. Ele viria a programar duas músicas de Luiz Ayrão pelas mensagens nas entrelinhas e com "Andina" não foi diferente. Abílio a descreveu como "uma tentativa de promover uma identidade latino-americana no tempo da censura brava". Confiram os versos: "As morenas da cordilheira /as moradas do vale em flor / choram a morte do seu cantor / e é por isso que por todo o lado / há uma porta aberta e um corredor / toda a casa é bem ajeitada / que é pra chegada de outro cantor". Seria uma referência ao cantor Victor Jara, torturado e fuzilado pela ditadura chilena no golpe de 1973? .
Extraído: http://ow.ly/26Fqp .
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