Ciao Itália
O que incomoda Roma no caso Battisti é a origem e não a natureza da decisão
Leonardo Attuch
Petrella, ex-militante das Brigadas Vermelhas, alegando razões humanitárias. Roma discordou, mas respeitosamente acatou a decisão de Paris. Dias atrás, foi a vez de o Brasil conceder refúgio político a Cesare Battisti. Desta vez, o mundo veio abaixo. Roma convocou de volta seu embaixador, senadores sugeriram um boicote comercial, um jogo amistoso entre as seleções de futebol dos dois países quase foi cancelado e o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, incapaz de enxergar sua própria decadência, disse que a Itália poderá bloquear o ingresso do Brasil no G-8, o clube das oito nações mais ricas do mundo. Cenas de um autêntico pastelão italiano.
Mas, na essência, qual é a diferença entre as duas decisões? Na prática, nenhuma. Países democráticos, como Brasil e França, valeramse de suas leis e, de forma soberana, avaliaram que era o caso de proteger cidadãos de um outro país, também democrático. No caso de Petrella, os italianos não se ofenderam. Com Battisti, sentiram-se humilhados. Sinal de que Roma ficou mais incomodada com a procedência do que com a natureza da decisão – aliás, o mesmo Battisti viveu durante 11 anos em Paris, também como refugiado, sem que as relações franco-italianas sofressem abalos.
O Brasil, no entanto, talvez ainda seja para os italianos uma nação bárbara, de segunda categoria. Prova disso foi a declaração do vice-chanceler Alfredo Mantica, segundo quem a Itália não aceita receber lições de moral do Brasil ou de Lula. Mas o que se pode dizer de um país governado por Silvio Berlusconi? Na semana passada, o primeiro-ministro afirmou que a única forma de evitar estupros em Roma é colocar um soldado ao lado de cada jovem, porque as italianas são excessivamente formosas. Tempos atrás, tentou atrair investidores, dizendo que seu país tem as mais belas secretárias do mundo. Nada disso tem funcionado e a economia italiana, estagnada há anos, já é inferior à do Brasil. Sinal de que, mais cedo ou mais tarde, nós estaremos no G-8, ocupando o lugar que hoje é deles. O que nos coloca numa posição de inferioridade são as imensas filas nos consulados, com pedidos de dupla cidadania. Na semana passada, Gilberto Gil, nosso Luciano Pavarotti, se tornou italiano. Tempos atrás, até a primeira-dama, Marisa Letícia, festejou a cidadania italiana, dizendo pensar no futuro dos filhos. É esse nosso complexo de vira-latas que ainda dá aos italianos a falsa ilusão de que podem falar grosso com o Brasil, capice?.
Extraído: http://leituraglobal.com/601/ .
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