Mesmo afogada, população é reprimida pelo poder público de SP
Escrito por Rodrigo Mendes; colaborou Gabriel Brito
A intensa série de chuvas no último mês, em todo o país, tem causado enchentes e desastres, destruindo cidades inteiras, desabrigando milhares de pessoas e provocando uma quantidade alta de mortes. Em diversas regiões do Brasil, o drama se repete. O problema não é novo, ainda que seja mais cômodo para governantes tratarem-no como se o fosse, lidando com a tragédia de forma "emergencial", como simples e imprevisíveis desvarios da natureza.
Também é emblemática a cobertura unidimensional do tema. Especialistas e estudos verificados pela reportagem apontam que a política de moradia e urbanização das cidades influencia diretamente nessa situação. Primeiro porque a falta de uma política que permita às pessoas terem acesso à moradia digna em zonas mais centrais da cidade – em geral em milhares de imóveis vazios usados para obtenção de lucro fácil por meio da especulação imobiliária – induz à ocupação irregular, em condições mais que precárias, em áreas que deveriam ser protegidas, aumentando a impermeabilização do solo, dentre outras conseqüências.
Isso provoca um aumento generalizado do trânsito, situação aguda que se tornou crônica em São Paulo. As condições de moradia também são um caso de saúde pública alarmante, pois as doenças proliferam sob condições de vida tão degradantes. E a qualidade da água usada para abastecer a cidade fica ameaçada. Segundo estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, desde 1996 aumentou em 50% a urbanização do entorno da represa Guarapiranga, responsável por boa parte da água fornecida à região metropolitana de São Paulo.
E quando as comunidades de moradores conseguem avançar no processo de urbanização, isso ainda não os livra dos riscos de chegarem do trabalho e terem em suas casas metros de água alagada, destruindo por completo seus pertences. Relato de uma moradora do Jardim Lucélia, na região do Grajaú, que se localiza inteiramente sobre área de mananciais, retrata a situação.
Segundo ela, neste mês se presenciou o primeiro caso de enchente no bairro em 21 anos, coincidindo com o início de obras de canalização do córrego vizinho. Diversas casas foram tomadas pela água e várias pessoas que estavam dentro de suas residências ficaram presas pela pressão da água. "A força da água não deixava a gente abrir a porta", explica. Essa moradora conta que, com sua família, foi obrigada a pular a janela para conseguir sair e presenciar o desespero dos vizinhos.
Leia a matéria na Integra aqui:
Nenhum comentário:
Postar um comentário