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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CHILE: A HERANÇA DE PINOCHET

Vitória dos herdeiros de Pinochet condicionará o cenário latino-americano Escrito por Atilio A. Boron 29-Jan-2010 Para a Concertação, o triunfo da direita (na realidade, sua variante mais virulenta, a pinochetista) nas eleições presidenciais chilenas poderia ser considerado mais um exemplo da "crônica de uma morte anunciada". A progressiva assimilação do legado ideológico da ditadura militar pelos principais quadros da aliança democrata-cristã-socialista fez com que a distinção entre a Concertação e os herdeiros políticos do regime militar (a ‘Renovação Nacional’, em sua ala ‘moderada’, se é que um pinochetismo moderado pode ser outra coisa que não um absurdo e a União Democrática Independente, seus batalhões mais cavernícolas) fosse se desvanecendo até tornar-se imperceptível para o eleitorado. Fernando Henrique Cardoso, melhor sociólogo que presidente, gostava de repetir a seus alunos que "no final das contas, os povos sempre vão preferir o original à cópia". E tinha razão. Neste caso, o original era o pinochetismo e seu herdeiro, Sebastian Piñera; a Concertação e seu inverossímil candidato, a cópia. Trata-se de um exagero injusto? De jeito nenhum. Escutemos o que dizia Alejandro Foxley, que entre 1990 e 1994 se desempenhou como Ministro da Fazenda do governo de Patrício Aylwin, nem bem inaugurada a "transição democrática". Nesse cargo, Foxley se esmerou em preservar e aprofundar o rumo econômico imposto pela ditadura. Senador pela democracia cristã entre 1998 e 2006 e ministro de relações exteriores do governo de Michelle Bachelet entre 2006 e 2009, toda sua atuação política esteve marcada por uma incondicional submissão às orientações estabelecidas por Washington e seus representantes locais no Chile. Este altíssimo representante da Concertação declarava em maio de 2000 que "Pinochet realizou uma transformação, sobretudo na economia chilena, a mais importante que houve neste século. Teve o mérito de se antecipar ao processo de globalização... Há de se reconhecer sua capacidade visionária para abrir a economia ao mundo, descentralizar, desregular etc. Essa é uma contribuição histórica que vai perdurar muitas décadas no Chile... Além do mais, passou no teste do que significa fazer história, pois terminou mudando o modo de vida de todos os chilenos para bem, não para mal." Pinochet visionário, Pinochet criador do Chile moderno, Pinochet mudando o Chile para bem! Os horrores do pinochetismo com sua seqüela de milhares de mortos, desaparecidos, torturados, assassinados, com as liberdades suspensas, o terrorismo de Estado e a violação sistemática dos direitos humanos, tudo é malandramente acobertado na sofisticação do tecnocrata "progressista". Com lideranças que sustentavam um discurso como esse (que muitos compartilhavam, porém poucos se atreviam a manifestar com tanto descaro) e com políticos que, em muitos casos, foram abertamente golpistas e facilitadores do golpe que perpetraria Pinochet em 1973 (coisa que alguns parecem ter esquecido), poderia a Concertação ser crível como uma alternativa de superação ao pinochetismo? Na verdade, o que deveria se encontrar é a razão pela qual a cidadania chilena não se decidira muito antes a substituir a cópia pelo original. No entanto, a continuidade entre o pinochetismo e seus sucessores "democráticos" não se verifica tão somente na admiração, aberta ou envergonhada, pela obra e o legado histórico de Pinochet. Também se demonstra nas políticas econômicas "pró-mercado" e "pró-investimento" (e, portanto, anti-justiça e igualdade) implementadas pela Concertação ao longo de duas décadas e no supersticioso respeito à Constituição de 1980, uma obra mestra do autoritarismo e formidável barreira contra qualquer pretensão séria de democratizar a vida política chilena. Em seus trinta anos de vida, esse corpo constitucional só experimentou reformas marginais, a mais importante delas sendo a redução do mandato presidencial de cinco para quatro anos e a impossibilidade de uma reeleição imediata. Mas a camisa de força que esclerosou um sistema partidário que nas eleições recém finalizadas terminou de morrer, o sistema binominal, permaneceu incólume do mesmo modo que as escandalosas prerrogativas de suas forças armadas que ainda distam muito de estarem subordinadas ao poder civil. Essa Constituição faz com que o Chile incorra em exorbitante gasto militar, várias vezes superior, por exemplo, ao da Venezuela, cuja quantia tira o sono da secretária de estado Hillary Clinton.
Leia a matéria na Integra aqui:

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