Antropoceno, a era da destruição
Rogério Tuma ( http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=5132 )
A revista Nature, a mais prestigiosa publicação científica mundial, publicou na sua edição de 24 de setembro um manifesto assinado por 29 cientistas mundiais. O grupo avisa que as atividades diárias dos 6 bilhões de humanos resultam por si em uma força geofísica capaz de mudar completamente a Terra, equivalente às grandes forças da natureza. Parece um assunto meio batido, mas, no intuito de anunciar cientificamente o Dia do Juízo Final, o grupo descreve limites biofísicos que, se ultrapassados, gerariam enormes catástrofes.
Para os cientistas, esses limites são bem definidos e podem ser quantificados em cada área de interferência humana: poluição química, mudança climática, acidificação dos oceanos, perda do escudo de ozônio na atmosfera, ciclo do nitrogênio, ciclo do fósforo, uso de água doce, mudança do solo, biodiversidade e sobrecarga de aerossóis na atmosfera. Em três deles os limites de sustentabilidade já foram ultrapassados.
Os humanos mudaram o clima, aumentaram demais os resíduos orgânicos de nitrogênio e ameaçaram ou extinguiram tantas espécies que a natureza não consegue mais recuperar essas alterações sem apoio. Outros seis limites de sustentabilidade poderão ser ultrapassados nas próximas décadas se nada for feito, mas a pergunta fundamental é: quanto a Terra consegue suportar antes que a vida humana se torne inviável em nosso planeta? Um dos coordenadores do estudo, Diana Liverman, da Universidade do Arizona e também da Universidade de Oxford, explica que o principal intuito desse manifesto é estimular estudos que identifiquem até quanto nosso planeta pode aguentar nossas trapalhadas e como interromper esse processo antes que seja tarde demais.
A cientista explica que hoje podemos quantificar algumas dessas agressões e o limite que a Terra pode suportar, mas existe sempre uma interação entre os fatores que potencializam as ações agressoras. Como, por exemplo, a extinção de espécies acaba por interferir na reserva de carbono, uso do solo, da água e assim por diante. Alguns números a comunidade científica conhece. Os limites de extinção de espécies que a natureza poderia compensar anualmente é de dez espécies por milhão de existentes. Antes da Revolução Industrial, o número era de 0,1 espécie extinta.
Agora atinge a marca anual de cem espécies extintas por milhão existente. Johan Rockstrom, da Universidade de Estocolmo, coordenador do estudo, acredita que o manifesto dá números cruciais que podem ser utilizados nos acordos antipoluição entre nações e avisa que, se não agirmos longe desses limites já conhecidos, o fim estará próximo. Mas se os respeitarmos teremos ainda séculos e séculos de feliz existência.
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