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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

MITO?

Por que não canto o Hino Nacional Escrito por Mario Maestri No início do século 19, os soldados franceses enviados por Bonaparte para vergar a barbárie e restabelecer a civilização na parte francesa da ilha de Santo Domingos, futuro Haiti, escutavam, ao longe, assustados e perplexos, o ressoar da canção querida que seus oficiais lhes proibiam cantar. Eram os negros insurrectos que, entoando a Marselhesa, surgiam da profundeza da noite para desbaratar as linhas do exército invicto. Avante, filhos da Pátria O dia de glória chegou Contra nós, levantou-se, O estandarte ensangüentado da tirania. Escutai, nos campos, rugir esses ferozes soldados? Eles vêm, nos nossos braços, degolar vossos filhos, vossas companheiras. Às armas, cidadãos! Formai, vossos batalhões! Marchemos! Marchemos! A Marselhesa teria sido composta para o exército do Reno, em 1792, pelo capitão-engenheiro Claude-Joseph de Lisle Rouget. Ela transformou-se na principal canção popular marcial e, muito mais tarde, no hino nacional da França, pela decisão e vontade anônimas e soberanas da população nacional em armas. A Marselhesa foi selecionada entre tantos outros hinos porque na forma e no conteúdo sintetizava o entusiasmo com que a França democrática, republicana e plebéia levantava-se para vergar os aristocratas e conservadores que, dentro e fora do país, coligavam-se contra a revolução. Após o golpe militar de 1799, Bonaparte proibiu aos soldados franceses cantar a Marselhesa, tamanho era seu poder de invocação democrática e revolucionária. A tradição conta que teria apenas permitido que fosse entoada, por uma única vez, em 1805, em Austerlitz, quando da grande vitória sobre os imperadores da Áustria e da Rússia. Pela Internacional! No século 19, através do mundo, a Marselhesa tornou-se a canção do movimento democrático e socialista. Em 1870, com a Terceira República francesa, ela foi reconduzida como hino patriótico francês. Portanto, em 1871, na Comuna de Paris, o mundo do trabalho e a ordem do capital defrontaram-se, de armas à mão, cantando o mesmo hino. Durante os combates parisienses, foi composto o "Canto da Internacional: hino dos trabalhadores", que o Jornal Oficial da Comuna falhou ao prognosticar como a possível "Marselhesa da nova Revolução" – como lembra Luiz A. Gini. Cem mil trabalhadores foram mortos, fuzilados ou aprisionados durante e após os combates pelas forças da reação burguesa. O "Canto da Internacional" não prosperou. Porém, a canção revolucionária "A Internacional", com música do operário Pierre Degeyter [1888] e poema escrito por Eugène Pottier, que participara da Comuna, em 1871, terminou celebrizando-se, no fim do século 19. Desde então, "A Internacional" constituiu o hino dos trabalhadores franceses e de todo o mundo, cantado com a mesma música nos mais diversos idiomas. De pé, ó vítimas da fome! De pé, famélicos da terra! Da idéia a chama já consome A crosta bruta que a soterra. Cortai o mal bem pelo fundo! De pé, de pé, não mais senhores! Se nada somos neste mundo, Sejamos tudo, ó produtores! Refrão (bis) Bem unidos façamos, Nesta luta final, Uma terra sem amos A Internacional. Macieira não dá laranjas. A gênese histórica e social radicalmente distinta do hinário patriótico brasileiro explica seu nulo poder evocativo popular e democrático. A ruptura da união do Brasil com Portugal foi certamente o movimento de independência mais atrasado e mais conservador das três Américas. Para tranqüilizar os interesses britânicos e portugueses, as classes dominantes provinciais do Brasil aceitaram o tacão centralizador e despótico de um príncipe português que era, igualmente, o herdeiro da coroa lusitana que renegavam. Para garantir a continuidade da ordem negreira, os grandes proprietários de todas as províncias optaram por um Estado monárquico, centralizador e antiliberal.

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